O Globo, n.32.302, 14/01/2022. Brasil, p. 7

Seca no Sul é o segundo evento climático extremo do verão
Cleide Carvalho


Massa de ar quente formada na Argentina deve aumentar temperaturas.

Uma onda de calor que tem como epicentro a Argentina e atinge parte do Uruguai e Paraguai deve permanecer no Rio Grande do Sul até o fim de semana. Marcelo Seluchi, meteorologista do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), considera este o segundo evento extremo deste verão, ao lado das fortes chuvas que alagaram mais de 170 municípios na Bahia. O inverno passado já foi marcado por fortes geadas e pela seca.

— Sempre foi dito que as mudanças climáticas tornariam os eventos extremos mais frequentes. É o que está acontecendo — afirma Seluchi.

O calor de quase 45°C na Patagônia argentina que se irradia para o Brasil é devido a uma área de alta pressão, uma massa de ar denso, pesado e quente. Seluchi diz que a energia do sol basicamente se divide em duas — parte aumenta a temperatura e parte evapora a umidade do solo. Quanto mais o solo está seco, mais a temperatura aumenta. É o que ocorre neste momento na Patagônia argentina, onde chove pouco.

No Rio Grande do Sul, que enfrenta seca prolongada, as temperaturas mais altas foram registradas ontem em Uruguaiana (40°C), Alegrete (39°C) e São Borja (38°C).

Seluchi aponta outros fatores para o calor, como os ventos quentes da Amazônia em direção ao Sul e o fato de a Argentina ter dias mais longos e noites mais curtas neste período do ano, o que reduz o tempo de resfriamento. O meteorologista afirma que hoje e sábado devem ser os dias mais quentes no Rio Grande do Sul. A partir daí, a previsão é de que a temperatura diminua.

Rogério Rezende, do Instituto Nacional de Meteorologia, afirma que há uma conexão entre as diversas regiões do planeta e que, neste momento, está em ação um fenômeno chamado oscilação antártica, espécie de gangorra de massa de ar que impede que as frentes frias se desloquem e alcancem a Argentina e o Sul do Brasil.

Rezende estima que o calor possa aumentar até no Oeste do Paraná e Santa Catarina, com temperaturas acima de 40°C.