O Estado de S. Paulo, n. 47921, 30/12/2024. Economia & Negócios, p. B1

Inadimplência de empresas é recorde; cenário deve piorar
Lucas Agrela
Luiz Guilherme Gerbelli
Renée Pereira

 

 

A inadimplência atingiu em 2024 o recorde de 7 milhões de empresas no Brasil, quase um terço das companhias existentes, de acordo com dados da Serasa Experian. A expectativa é de que as empresas tenham ainda mais dificuldades em 2025 com a elevação da taxa Selic e a alta do dólar. Só com o aumento da Selic em setembro, cerca de 100 mil novas empresas se tornaram inadimplentes em outubro. A alta de 27,6% do dólar neste ano, por sua vez, afeta sobretudo as grandes empresas com dívida em moeda estrangeira. Um levantamento feito pela Elos Ayta Consultoria, com 101 companhias de capital aberto com endividamento em dólar, mostra que quase 40% da dívida total estava em moeda estrangeira até setembro deste ano. De um total de R$ 353 bilhões em dívidas, R$ 68,9 bilhões são de curto prazo e R$ 284 bilhões, de longo prazo.

A inadimplência atingiu o recorde de 7 milhões de empresas no Brasil neste ano, quase um terço das companhias existentes, de acordo com dados da Serasa Experian. Com a elevação da taxa Selic e a alta do dólar, a expectativa é de que as empresas tenham ainda mais dificuldades em 2025. Só com o aumento da Selic em setembro, cerca de 100 mil novas empresas se tornaram inadimplentes em outubro, quebrando uma estabilidade que já durava cinco meses.

“A taxa de juros é uma variável muito importante para a inadimplência das empresas, assim como a inflação é importante para a inadimplência do consumidor. Nesse cenário de inflação e juros subindo, as duas inadimplências vão ficar pressionadas. Então, nos próximos dois trimestres, não esperamos nenhum tipo de arrefecimento nessa tendência”, diz Luiz Rabi, economista-chefe da Serasa.

Junta-se a isso a alta de 27,6% do dólar neste ano, que afeta sobretudo as grandes empresas com dívida em moeda estrangeira. Um levantamento feito pela Elos Ayta Consultoria, com 101 empresas de capital aberto com endividamento

PMEs

Maioria das companhias com dívidas atrasadas é micro, pequena ou média, mostra levantamento

em dólar, mostra que quase 40% da dívida total estava em moeda estrangeira até setembro deste ano. Isso significa R$ 353 bilhões. Desse total, R$ 68,9 bilhões são de curto prazo e R$ 284 bilhões, de longo prazo.

“Porém, no quarto trimestre, o dólar subiu para mais de R$ 6. Assim, mantido o mesmo estoque, estima-se que a dívida total em moeda estrangeira dessas empresas tenha passado de R$ 353 bilhões para R$ 392 bilhões”, afirma Einar Rivero, responsável pelo levantamento. Segundo ele, a valorização do dólar no último trimestre irá impactar significativamente o resultado das empresas. “A despesa extra gerada pela variação cambial tem o potencial de corroer uma parte importante dos lucros, o que, na ausência de alguma estratégia de cobertura cambial, pode afetar negativamente não apenas o balanço das companhias, mas também sua capacidade de investimento e expansão.”

Na visão de Rabi, o cenário econômico tende a melhorar apenas se o governo aprovar um corte de gastos efetivo e convencer o mercado de que pretende priorizar o equilíbrio das contas públicas. De acordo com o mais recente relatório Focus, do Banco Central, a Selic, hoje em 12,25%, deve superar o patamar de 15% ao ano em 2025. Já a inflação deste ano deve estourar o teto da meta, de 4,5%, e terminar o ano acima 4,7%.

CONTRAPÉ.

Economistas avaliam que, mais uma vez, as empresas foram pegas no contrapé. A alta da taxa básica de juros, por exemplo, não estava no radar delas. No início do ano, a expectativa era de que a Selic iria encerrar o ano em 9%. Já o dólar estava em R$ 4,85. •