Título: Dor e revolta marcam enterro
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 17/02/2005, Internacional, p. A7

Com um misto de dor e revolta, mais de 150 mil libaneses acompanharam ontem, em Beirute, os restos mortais do ex-premier assassinado segunda-feira, Rafik Hariri, de 60 anos. A cerimônia foi interrompida várias vezes por pessoas que proferiram gritos de ordem contra a Síria, como ''Fora a Síria'' e ''Síria é a fonte do terrorismo''. O governo de Damasco, que mantém 16 mil soldados no país, é acusado pela oposição pelo atentado.

Desde o início da manhã partidários se concentraram nos arredores da casa do ex-premier, onde foi velado, coberto com a bandeira libanesa.

O convite do governo de celebrar um funeral de Estado para Hariri - premier durante 10 dos últimos 13 anos - foi rejeitado pela família. O político se aproximou da oposição desde que renunciou ao cargo, em outubro, por se opor à ampliação do mandato do presidente, Émile Lahoud, pró-Síria.

Temendo represálias, nenhum membro do governo nem da Presidência assistiu à cerimônia. Mas estiveram presentes o presidente da França, Jacques Chirac, e os secretários para o Oriente Médio dos EUA e da União Européia, assim como o conselheiro Lakhdar Brahimi da ONU, que conduziu uma mediação que contribuiu para acabar com a guerra civil (1975-90).

- Hariri representava um ideal de democracia, de soberania, de independência e de liberdade para o país. É uma grande perda para o Líbano e para o mundo - lamentou Chirac.

Do mundo árabe, Egito, Marrocos, Argélia, Jordânia, Arábia Saudita, Qatar e a Autoridade Palestina enviaram representantes.

Às 10h o caixão foi levado pelos filhos à ambulância, onde a mulher, Nazeh, e a filha mais nova acompanharam o corpo. O veículo percorreu 3 km em duas horas antes de chegar à mesquita Mohammed al Amin. Várias pessoas desmaiaram, enquanto uma multidão, carregando fotos e cartazes com mensagens como ''Choramos ao mártir que deu a vida ao serviço dos pobres'' e ''O sonho continuará vivo; o futuro é nosso'' tentava se aproximar.

O político foi enterrado na própria mesquita - construída graças a suas doações e cuja inauguração seria presidida por ele -, no centro de Beirute. Em Sidon, sua cidade natal, no Sul do país, funerais simbólicos também foram realizados.

Também foram enterrados os sete guarda-costas que o acompanhavam no momento do ataque, segunda-feira, quando outras sete pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridas.

Ontem, o líder druso Walid Jumblat, aliado de Hariri nos últimos meses, pediu em público proteção internacional ao declarar que teme ''ser o próximo''.