Brasil na posse de Maduro...

Correio Braziliense, n. 22570, 03/01/2025. Política, p. 3

Victor Correia


O governo brasileiro decidiu enviar um representante de fora do primeiro escalão para a posse do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, em Caracas. O papel caberá à embaixadora Gilvânia Maria de Oliveira, que chefia a representação diplomática brasileira no país vizinho.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se afastou de Maduro após as eleições do ano passado, permeadas por indícios de fraude, e resolveu não comparecer à cerimônia nem mandar um de seus ministros.
A posse ocorrerá na sexta-feira da semana que vem, na capital venezuelana. O governo brasileiro não reconheceu a vitória de Maduro nas urnas, o que causou uma crise diplomática entre os países vizinhos. Apesar do distanciamento, o Planalto não rompeu a relação e mantém um canal de diálogo aberto.
Nesta quinta-feira, a Missão Internacional Independente de Apuração de Fatos sobre a Venezuela — ligada ao Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) — emitiu um alerta para que o governo Maduro permita protestos pacíficos e manifestações contrárias durante a posse "sem medo de represálias". A entidade também reforçou o pedido para que todos os opositores presos sejam libertados.
Maduro foi reconduzido para o seu terceiro mandato em 28 de julho, após ter firmado compromisso com a comunidade internacional para realizar eleições livres. Os Acordos de Barbados foram assinados com mediação do Brasil. Porém, semanas antes do pleito, o regime Maduro voltou a perseguir opositores e impedir os principais líderes de participar das eleições.
O chavista disputou contra Edmundo González e foi declarado vencedor pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). O órgão, porém, é comandado por seus aliados e foi acusado de fraude no resultado, pela oposição e por observadores internacionais.
A vitória de Maduro foi reconhecida imediatamente por nações, como a Rússia e a China, mas grande parte dos países demonstrou preocupação com as acusações de irregularidades e pediu a divulgação das atas eleitorais, que comprovariam o triunfo do chavista. Os documentos nunca foram divulgados.
Após o pleito, Maduro endureceu ainda mais a repressão e prendeu mais de 2.500 pessoas em protestos por todo o país. Brasil, Colômbia e México tentaram negociar uma saída política para a crise e propor a realização de novas eleições, mas não tiveram sucesso.
Em outubro, a crise com o governo Lula se acirrou após o Brasil barrar a entrada da Venezuela como membro parceiro do Brics. O governo venezuelano acusou o Itamaraty de se "intrometer" em seus assuntos e chamou o episódio de uma "agressão descarada e grosseira".
Desde então, a crise arrefeceu. O embaixador venezuelano Manuel Vadell, que havia sido chamado de volta por Maduro, retornou a Brasília em novembro.
O Brasil também será representado por uma embaixadora, Maria Luiza Viotti, na posse do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em 20 de janeiro. A diplomata chefia a embaixada brasileira em Washington. No caso americano, porém, o procedimento é praxe e é raro haver convites para chefes de Estado.

... que tenta capturar opositor exilado

As autoridades da Venezuela oferecem uma recompensa de US$ 100 mil (R$ 615 mil) por informação que leve à captura do opositor exilado Edmundo González Urrutia, que afirma ter vencido Nicolás Maduro nas eleições do ano passado, segundo um aviso policial divulgado ontem. “Procurado. Ordem de captura. Recompensa: 100.000 $”, diz um cartaz publicado pela polícia científica nas redes sociais com a foto de González Urrutia, que se exilou na Espanha em setembro, embora tenha prometido voltar ao país para tomar posse em 10 de janeiro no lugar de Maduro. Fontes judiciais confirmaram à AFP que o cartaz será afixado em aeroportos e postos de controle policial em todo o país. Em 20 de dezembro, a Espanha concedeu asilo político a González Urrutia, acusado pelo Ministério Público venezuelano de crimes como “conspiração” e “associação para delinquir”. O cartaz divulgado pelo Corpo de Investigações Penais, Científicas e Criminalísticas (CICPC) é dirigido a “toda pessoa que tenha conhecimento” sobre o “paradeiro” do opositor. As autoridades eleitorais proclamaram Maduro reeleito para um terceiro mandato consecutivo de seis anos (2025-2031), sem divulgar, até o momento, detalhes da votação. A oposição, no entanto, denuncia fraude e reivindica a vitória de González Urrutia. Protestos A proclamação da vitória de Nicolás Maduro gerou protestos e confrontos com as forças de segurança, que deixaram 28 mortos e cerca de 200 feridos. Mais de 2.400 pessoas foram detidas nos protestos pós-eleitorais, acusadas, principalmente, de terrorismo e incitação ao ódio, e presas em centros de alta segurança. Entre os detidos, três morreram sob custódia e cerca de 1.400 foram soltos em liberdade condicional. Em seu último relatório, a Missão Internacional Independente de Verificação de Fatos sobre a Venezuela documentou a “repressão violenta” dos protestos pós-eleitorais. “O aparelho repressivo continua totalmente operacional”, disse um dos especialistas que integram o grupo, Francisco Cox, em comunicado ontem.