O Estado de S. Paulo, n. 47923, 01/01/2025. Economia & Negócios, p. B1
Haddad tem desafio de desarmar ‘bomba-relógio’ dos juros em 2025
Alvaro Gribel
O ano de 2025 começará para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com uma tarefa ainda mais árdua e urgente do que a do final de 2024. Caberá a ele reverter a crise de confiança que se acentuou nas últimas semanas no mercado, e que já levou a um choque de juros que, mais cedo ou mais tarde, atingirá a economia real.
A dúvida é se Haddad terá força política para conseguir medidas de ajuste fiscal mais sustentáveis, depois de ter sido derrotado na queda de braço interna do governo na apresentação do pacote de contenção de gastos, no fim de novembro. Da ideia original da Fazenda, de colocar as principais rubricas do Orçamento dentro do limite de crescimento do arcabouço fiscal, de 2,5% ao ano acima da inflação, apenas o salário mínimo e as emendas parlamentares foram incorporadas.
As áreas de Saúde e Educação foram poupadas, e as medidas enviadas ao Congresso pela pasta sobre o Benefício de Prestação Continuada (BPC) foram, em sua maior parte, derrubadas pelos parlamentares e vetadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após acordo de líderes partidários.
Embora tenha dito que o pacote enviado ao Congresso foi a “primeira leva” de medidas, Haddad ainda não deu sinais do que pretende fazer agora em 2025 ( mais informações na pág. B2).
A incerteza quanto à sustentabilidade da dívida pública jogou o dólar para a casa dos R$ 6, apesar dos US$ 32,5 bilhões injetados pelo Banco Central só em dezembro passado para tentar conter os preços da moeda. E a tendência para este ano é de mais pressão sobre o dólar, de acordo com projeções do boletim Focus divulgado na segunda-feira. A estimativa intermediária para a cotação da moeda no fim de 2025 aumentou de R$ 5,90 para R$ 5,96, na nona alta seguida. Já a projeção para o fim de 2026 avançou de R$ 5,84 para R$ 5,90.
Da mesma forma, houve uma forte piora das expectativas de inflação, o que levou o BC a sinalizar que a taxa básica de juros deverá chegar a 14,25% ao ano já na reunião de março do Comitê de Política Monetária (Copom). Na reunião de dezembro passado, quando a Selic foi levada para 12,25%, o colegiado falou em “cenário mais adverso para a convergência da inflação ( para as metas)”.
Na visão do economistachefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo, a tarefa de Haddad de recuperar a confiança é uma missão “quase impossível”, porque depende do convencimento do presidente Lula.
“O ministro tem uma tarefa: ganhar credibilidade, o que será bastante difícil, quase impossível. Ele precisaria acabar com a indexação dos programas sociais ao salário mínimo ou desindexar o salário mínimo do crescimento do PIB, ou desindexar os gastos com Saúde e Educação da Receita Corrente Líquida”, afirmou. •