Título: Kyoto mira seis gases
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Fonte: Jornal do Brasil, 17/02/2005, Internacional, p. A8

Rebanhos e tênis também causam o efeito estufa

OSLO - Entrou ontem em vigor o Protocolo de Kyoto, a iniciativa, aprovada por 141 países, de reduzir a emissão de gases que causam o efeito estufa e o aquecimento global. O objetivo é conter a liberação de grandes quantidades de dióxido de carbono, emitido pela queima de combustíveis fósseis em usinas termelétricas, fábricas e automóveis.

O dióxido de carbono é o gás mais responsabilizado pelo aumento das temperaturas, mas não é o único. Também é alvo do Protocolo um coquetel de outros cinco gases menos comuns: metano, óxido nitroso, hexaflureto de enxofre, hidrofluorcarboneto e o perfluorocarbono.

O hexafluoreto de enxofre, por exemplo, pode ser 23.900 vezes mais poderoso que o dióxido de carbono na capacidade de armazenar o calor na atmosfera, segundo a ONU. Ele é usado em calçados esportivos, bolas de tênis e pneus, para dar elasticidade e a propriedade de quicar.

Pelo Protocolo, os países desenvolvidos terão de cortar as emissões de gases que provocam o efeito-estufa para 5,2% abaixo do nível registrado em 1990. O prazo para que isso ocorra é entre 2008 e 2012.

Ontem, o pacto foi celebrado na cidade japonesa que o batiza. O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, referiu-se ao aquecimento global como ''um dos maiores desafios do século 21''.

Em 2001, o dióxido de carbono respondia por 83,6% das emissões de gases-estufa nos EUA, seguido pelo metano, com 9,7%, e pelo óxido nitroso, com 6,1%. Os outros gases - o hexafluoreto de enxofre, os perfluorocarbonos e os hidrofluorocarbonos (HFC) - compunham o 1,6% restante.

Embora ainda minúsculas, as concentrações de alguns desses gases estão se ampliando. A do metano aumentou 150% desde o início da Revolução Industrial, no século 18.

Pecuaristas preocupados com o aquecimento global talvez tenham de se acostumar com termos como ''gerenciamento de estrume'' ou ''fermentação intestinal'', que faz referência ao modo como o metano é produzido e expelido pelos animais.

Alterações na dieta ou no uso de fertilizantes ajudam a cortar as emissões dos rebanhos. O metano também é liberado no cultivo de arroz, por vegetações apodrecidas e em minas de carvão.

- Alguns dos problemas com o metano estão ligados a países em desenvolvimento: campos de arroz na Índia, gado, entre outros - disse Bo Kjellen, especialista sueco em meio ambiente.

O metano liberado pelo gado é a maior fonte de emissão de gases-estufa da Nova Zelândia, onde 49,2% destas vieram da agricultura em 2002.