Título: Juros e dívida pública em alta
Autor: Gabriela Valente e Jiani Carvalho
Fonte: Jornal do Brasil, 17/02/2005, Economia, p. A17

Comitê de Política Monetária aumenta taxa Selic para 18,75% ao ano. Decisão eleva endividamento do governo em R$ 2,3 bi

Dessa vez, não houve surpresas. O Comitê de Política Monetária (Copom) elevou pela sexta vez consecutiva a taxa básica de juros (Selic) em meio ponto percentual, para 18,75% ao ano, como já era esperado. Mas a contra-indicação do remédio vem a reboque. A nova taxa vai elevar em R$ 2,3 bilhões a dívida pública, que em janeiro chegou ao total R$ 826,70 bilhões. Antes mesmo do anúncio, já era sabido que a dívida mobiliária do Brasil havia crescido. A principal culpada é a taxa Selic, que corrige cerca de 60% da dívida mobiliária do governo. Em janeiro, contra dezembro do ano passado, o endividamento cresceu R$ 16,44 bilhões.

Aumentou também a parcela da dívida corrigida pela taxa básica de juros ¿ de 57,14% para 59,46%, o que equivale a R$ 491,54 bilhões. De acordo com o Tesouro, a elevação deste percentual foi causada pela emissão líquida de Letras Financeiras do Tesouro (LFT) de R$ 21,7 bilhões e pelo resgate de outros títulos, sobretudo os indexados ao câmbio ¿ os chamados swaps cambiais, usados para reduzir a pressão de queda da taxa de câmbio.

A exposição cambial, por sua vez, caiu para 4,58% do total em janeiro, contra 5,15% registrados em dezembro. Isso ocorreu por conta de um resgate líquido de R$ 4 bilhões em títulos cambiais, efeito de apreciação cambial de 1,12% no mês. Ao considerar as operações de swap, essa parcela da dívida caiu de 9,9% para 8% no mês.

Já o percentual de títulos de índices de preços (inflação) caiu de 14,90% para 14,56% em janeiro. O prazo médio de emissão em janeiro subiu de 18,5 meses para 23,9 meses por causa de aumento de participação de LFTs mais longas. O prazo médio do estoque da dívida ficou em 28,5 meses, ante 28,1 meses apurados no mês anterior.

Com o aumento da taxa básica, o juro real segue no patamar mais alto do mundo, a 12,3% ao ano. É o patamar de juros reais que baliza a decisão e o custo dos investimentos produtivos.

No breve comunicado divulgado após a reunião, o Copom repetiu que está ¿dando prosseguimento ao processo de ajuste da taxa de juros¿ iniciado em setembro do ano passado e que já aumentou a Selic em 2,75 pontos percentuais. A decisão de ontem foi unânime e sem viés.

A alta veio em linha com a expectativa da maioria dos analistas do mercado financeiro.

¿ Desde a divulgação da ata da reunião de janeiro, em que o Copom alertou para a necessidade de etapas adicionais de alta nos juros, não houve melhoras significativas na economia que justificassem uma mudança no comportamento do BC ¿ explica o gerente de Política Monetária do Itaú, Joel Bogdanski. ¿ Com exceção ao câmbio, em um patamar mais baixo, inflação e atividade econômica ainda estão elevadas.

Para o economista-chefe do ABN Amro Asset Management, Hugo Penteado, a decisão do BC se justifica também por falhas no modelo usado pela instituição para estimar a inflação.

¿ Pelo modelo do BC, o IPCA projetado já está em 5,3%, próximo da meta de 5,1%, mas equívocos do modelo tornam o número irreal ¿ diz, acrescentando que espera nova alta de meio ponto percentual em março.

Já o vice-presidente Federação Nacional das Empresas de Crédito, Financiamento e Investimento (Fenacrefi), José Arthur Assunção diz que taxa está no limite. ¿ Creio que a taxa esteja chegando ao teto máximo, que para mim é de 19%.