O Globo, n. 32.301, 14/01/2022. Saúde, p. 18
 

G7 da CPI fala em possível sabotagem dos sistemas
Mariana Carneiro


O apagão de dados do Ministério da Saúde, que já dura 33 dias, foi o principal tema da conversa de senadores que integraram a CPI da Covid no ano passado e agora avaliam reeditá-la.

Membros do chamado G7 da CPI se reuniram virtualmente na tarde de terça-feira, após chamado de Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que queria saber a opinião do grupo sobre a proposta de uma nova CPI.  Com exceção de Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Eduardo Braga (MDB-AM), o núcleo de senadores que fizeram parte do grupo majoritário da CPI participaram da conversa, como Otto Alencar (PSD-BA), Eliziane Gama (Cidadania-MA), Humberto Costa (PT-PE) e Leila Barros (Cidadania-DF). Eles estão especialmente preocupados com os motivos que levaram o país ao escuro nas estatísticas sobre a doença. 

Alguns suspeitam até que a pasta comandada por Marcelo Queiroga tenha sabotado o sistema que, além de compilar os dados da doença, fornece também o chamado passaporte vacinal. Desde que o ConectSUS saiu do ar, tem sido mais difícil para estabelecimentos cobrarem e pessoas provarem que tomaram a vacina contra a Covid. 

"Estamos um mês sem dados e ninguém tomou a iniciativa de pedir informações ao ministério sobre o que aconteceu", disse Omar Aziz (PSD-AM), que presidiu a CPI da Covid no ano passado. 

"Vamos ouvir especialistas, há algo estranho nesse enredo. O sistema sai do ar justamente quando começou a se exigir o passaporte de vacinação? Para fazer o Tratecov eles foram bem rápidos e agora não conseguem resolver?", acrescenta Aziz, referindo-se ao aplicativo criado pelo Ministério da Saúde no início da pandemia, que receitava remédios ineficazes contra a Covid a partir de um algoritmo.

A criação do aplicativo foi tema de investigação da CPI da Covid e um dos motivos para que o Senado recomendasse ao Ministério Público investigar a conduta de servidores da pasta, como a secretária de gestão Mayra Pinheiro. Mas os senadores não estão satisfeitos com o trabalho do MP.

"Não sou tarado por CPI, mas quando alguns não cumprem o seu serviço, o que podemos fazer? A CPI nada mais é do que uma investigação feita pelo Congresso", afirma Randolfe.

Embora tenha protocolado um pedido de abertura de nova CPI na terça-feira mesmo, tendo como base não apenas o apagão de dados mas também a resistência de Queiroga em vacinar crianças, Randolfe ainda não reuniu as 27 assinaturas de apoio para levar a iniciativa à diante. 

Otto Alencar diz que pessoalmente é favorável à nova CPI mas lembra que a decisão tem que ser levada a debate dentro de seu partido, o PSD, que também é a sigla do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). 

"Todas as inações do governo na testagem, na vacinação de crianças e no apagão de dados são fatos determinados para uma nova CPI, não me furtarei em assiná-la, mas tenho que conversar com meu partido antes", diz Alencar.