Valor Econômico, 05/05/2020, Brasil, p. A2

Vendas para Ásia elevam superávit em abril
Mariana Ribeiro


Com avanço das vendas para a Ásia, a balança comercial brasileira registrou um superávit de US$ 6,7 bilhões no mês passado, o maior para o mês em três anos, segundo dados divulgados ontem pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex). As exportações totalizaram US$ 18,3 bilhões e registraram queda de 0,3%, pela média diária, em relação ao mesmo mês de 2019. Já as importações ficaram em US$ 11,6 bilhões, um recuo de 10,5%.

O ministério informou ainda esperar um superávit comercial de US$ 46,6 bilhões neste ano, o que representaria queda de 3% em relação a 2019. Foi a primeira estimativa divulgada em 2020, em meio a um cenário mais incerto pela pandemia de covid-19. Nos primeiros quatro meses do ano, o superávit comercial foi de US$ 12,3 bilhões, recuo de 16,4% sobre o mesmo período do ano anterior.

Com a queda no fluxo do comércio mundial, a Secex espera que as exportações somem US$ 199,8 bilhões neste ano, um recuo de 11,4% em relação a 2019. Já as importações devem ficar em US$ 153,2 bilhões, queda de 13,6% na mesma base de comparação. A corrente de comércio ficaria, assim, em US$ 353 bilhões, a menor para um ano desde 2016.

Em apresentação dos dados, o secretário de Comércio Exterior, Lucas Ferraz, destacou que as projeções estão baseadas “nas melhores informações possíveis” até abril e serão atualizadas ao longo do ano. Segundo ele, é possível que as exportações e as importações caiam “ainda mais que o projetado, a depender da duração da crise”, mas indicou que esse não é o cenário considerado mais provável.

“Dadas as características da nossa pauta exportadora [com forte concentração de commodities agrícolas] e o bom desempenho relativo do continente asiático, acreditamos que as exportações cairão menos que as importações, tornando o saldo comercial não muito longe do projetado atualmente”, completou.

No ano, as exportações caíram 3,7% em relação ao mesmo período de 2019 e as importações, 0,4%. As vendas para China, Hong Kong e Macau, no entanto, avançaram 11,3% no período. As exportações totais para a Ásia subiram 15,5% no período e concentraram quase metade das vendas brasileiras.

O resultado é diferente do observado em relação a outros importantes parceiros nacionais. Na mesma base de comparação, as vendas para a América do Norte caíram 18,5%, com queda de 23,9% nas exportações para os EUA. No caso da América do Sul, o recuo foi de 21,2%, e a queda nas vendas para a Argentina atingiu 18,8%. Os embarques para a Europa, por sua vez, caíram 3,5%.

Na semana passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, já havia dito que o setor externo não estava produzindo o choque estimado inicialmente graças às exportações para a Ásia. Ele destacou que as exportações para o continente estavam crescendo e compensando as perdas registradas nos demais mercados.

Segundo Ferraz, a queda das exportações para os EUA é reflexo “do grande recuo da economia americana, de 4,8% no primeiro trimestre” e do fato de as relações comerciais apresentarem forte concentração em manufaturados e semimanufaturados, “cujos fluxos globais estão em queda mundial”. Já em relação à América do Sul, comentou que as vendas caíram principalmente por conta do recuo observado nas exportações do setor automotivo e de petróleo bruto.