Valor Econômico, 05/05/2020, Política, p. A6

Aras pede gravação de reunião e oitiva de ministros
Murillo Camarotto
Luísa Martins


O procurador-geral da República, Augusto Aras, solicitou ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF) a gravação da reunião ministerial realizada no dia 22, quando o presidente Jair Bolsonaro teria ameaçado o então ministro da Justiça Sergio Moro de demissão caso seus pedidos para a PF não fossem acatados. O próprio Bolsonaro chegou a anunciar que tornaria público o vídeo, mas acabou recuando.

Responsável pelo inquérito que apura ilícitos na relação funcional entre Bolsonaro e Moro, Aras requereu ainda uma série de diligências relativas ao inquérito que investiga a suposta tentativa de interferência na Polícia Federal por parte do presidente. Os pedidos envolvem depoimentos de ministros, parlamentares e delegados, além de acesso a celulares, gravações e perícias.

Em requerimento encaminhado ao ministro Celso de Mello, que é o relator do inquérito no STF, Aras solicitou oitivas com os ministros Walter Braga Netto (Casa Civil), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional). O PGR sugeriu que todos os depoimentos sejam colhidos em até cinco dias úteis.

Também foi requerida uma oitiva com a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), que teve uma troca de mensagens com o ex-ministro da Justiça divulgada. No diálogo, ela pede que Moro aceite o nome escolhido por Bolsonaro para a PF e, em troca, se oferece para articular a nomeação do então ministro para a próxima vaga no STF.

Preferido de Bolsonaro para a PF, o delegado Alexandre Ramagem - atualmente na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) -- também está na lista de oitivas. Outros nomes são os do ex-diretor-geral Maurício Valeixo e dos delegados Ricardo Saadi, Carlos Henrique Souza, Alexandre Saraiva e Rodrigo Teixeira.

A PGR pediu ainda acesso aos comprovantes de autoria das assinaturas da exoneração de Valeixo, publicada no “Diário Oficial da União” (DOU), além do documento com pedido de demissão que deveria ter sido enviado pelo próprio ao presidente para que o ato de desligamento pudesse ser publicado como sendo “a pedido”.

Também consta no requerimento a produção de um laudo da Polícia Federal, baseado nos dados coletados do celular de Moro, bem como um relatório de análise das mensagens de texto e áudio, imagens e vídeos.

Ontem, Moro informou que não se opõe à retirada do sigilo do depoimento prestado por ele no sábado à PF, em Curitiba. Durante oito horas, o ex-juiz da Lava-Jato detalhou as afirmações feitas por ele no dia de sua saída do governo, quando disse que Bolsonaro tinha preocupação com inquéritos no Supremo e que, por isso, queria mudar o comando da PF.

O advogado Rodrigo Sánchez Rios, que representa Moro, disse que dar publicidade ao depoimento evita “interpretações dissociadas de todo o contexto das declarações”, além de garantir acesso a informações de interesse público. O documento será analisado por Celso de Mello, responsável pelas decisões referentes ao inquérito no STF.