Correio Braziliense, n. 22597, 30/01/2025. Economia, p. 7
Copom eleva juros para 13,25% ao ano
Fernanda Strickland
O Banco Central (BC) decidiu elevar a taxa básica de juros da economia, a Selic, em um ponto percentual, passando de 12,25% para 13,25% ao ano. A decisão foi anunciada, ontem, após reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) e contou com unanimidade entre os nove diretores da instituição.
O aumento era amplamente esperado pelo mercado financeiro, especialmente após o próprio BC ter sinalizado, em dezembro, que adotaria uma postura mais rígida diante do avanço da inflação. A elevação da Selic marca a primeira decisão do Copom sob a presidência de Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para comandar o órgão.
A decisão reflete a preocupação com a inflação crescente no país. No comunicado divulgado, após a reunião, o Copom indicou que, caso o cenário atual se mantenha, a Selic poderá sofrer novo aumento de igual magnitude na próxima reunião. “Diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, um ajuste de mesma magnitude na próxima reunião”, disse o documento divulgado pela instituição.
O BC reforçou que o ciclo de alta dos juros deve continuar nos próximos meses, dependendo do comportamento da inflação e dos fatores econômicos que influenciam os preços.
“Para além da próxima reunião, o Comitê reforça que a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, afirmou o Copom.
Com a Selic mais alta, o crédito para consumidores e empresas tende a ficar mais caro, o que pode afetar o consumo e os investimentos. Por outro lado, o aumento dos juros também tem o objetivo de conter a inflação, tornando o cenário mais previsível para a economia a longo prazo. O mercado aguarda os passos do Banco Central e os efeitos das novas taxas sobre os índices de preços. A próxima reunião do Copom será decisiva para definir o ritmo do aperto monetário e os rumos da política econômica no país.
A economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, aponta que o BC justificou a elevação da Selic apontando riscos inflacionários persistentes e um ambiente externo desafiador. “O Comitê reforçou que seguirá monitorando os indicadores mais sensíveis e tomará as medidas necessárias para conter a inflação, sinalizando ao menos mais um ajuste da mesma magnitude na próxima reunião”, ressalta.
O economista Allan Couto, fundador da Calculadora do GAIN, destaca três principais motivos para o aumento da Selic. “Em primeiro lugar, há o controle da inflação, que precisa ser combatida neste momento. Em segundo, a desvalorização do real frente ao dólar exige uma política monetária mais rígida para manter e atrair investidores”, diz.
A decisão do Copom ocorre em um contexto no qual o Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, optou por manter os juros estáveis. Isso amplia o diferencial de juros entre Brasil e EUA, o que pode ser positivo para a taxa de câmbio ao estimular o ingresso de capital estrangeiro. No entanto, Quartaroli ressalta que o mercado já havia precificado esse movimento, o que pode reduzir os impactos imediatos na cotação do dólar.