Correio Braziliense, n. 22602, 03/02/2025. Política, p. 2
Congresso reabre com desafios para Lula
Denise Rothenburg
Eduarda Esposito
Eleitos os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), a bola da construção política segue para as mãos do governo nesta pré-temporada rumo a 2026. E, nesse sentido, nas rodas de conversa nos convescotes do último fim de semana, o que mais se ouviu foi que o governo precisará buscar um acordo que atenda aos deputados no quesito emendas ao Orçamento e, de quebra, coloque os partidos de centro no Palácio do Planalto, com espaço de poder e de parceria real, de forma a que tenham assento nas reuniões dos chamados "ministros da Casa".
As emendas são consideradas o principal ponto para destravar a votação do Orçamento deste ano. Até aqui, o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), tem liberado as emendas a conta-gotas e já abriu uma série de inquéritos a cargo da Polícia Federal para investigar a aplicação dos recursos e a forma como essas emendas são negociadas. Essa situação, conforme antecipou a coluna Brasília-DF na semana passada, levou muitos deputados a suspeitarem de que há o intuito do STF de fazer uma espécie de "Lava-Jato" das emendas, para criminalizar os políticos e suas sugestões ao Orçamento, da mesma forma que a Lava-Jato tentou colocar toda a política na vala criminal.
Tanto Hugo Motta, quanto Davi Alcolumbre foram muito incisivos em seus discursos, ao defenderem a prerrogativa do Legislativo de promover emendas ao Orçamento. O presidente da Câmara, inclusive, pediu ao deputado Danilo Forte (União Brasil-CE) que prepare uma proposta. Motta deve conversar ainda esta semana com Flávio Dino para tentar chegar a um consenso sobre o tema.
Ministérios
Quanto à reforma ministerial, é um tema que caberá ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva montar o que deseja e chamar os partidos. Até aqui, o petista não deflagrou conversas mais amplas sobre essa reforma. Por isso, salvo se Lula puxar o assunto, ninguém espera que o tema seja tratado no café marcado para hoje, entre o chefe do Executivo, Alcolumbre e Motta. O que se tem são expectativas dos políticos. Como bem lembrou o colunista Luiz Carlos Azedo, na live de ontem no Instagram do Correio Braziliense (veja abaixo), há três nomes de peso na roda para uma reforma ministerial. Os ex-presidentes do Senado Rodrigo Pacheco, da Câmara, Arthur Lira, e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que termina seu mandato no partido este ano. Lula ainda não chamou nenhum dos três para tratar de ministério.
Há outros nomes muito falados nas rodas. Por exemplo, o do deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), no cargo de líder do governo, e o atual ministro de Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho, como ministro de Relações Institucionais. Silvinho, como é conhecido, é tido como paciente e com capacidade de articulação. O pai do ministro, o ex-deputado Sílvio Costa, foi um dos que mais ajudaram o governo Dilma Rousseff no período do impeachment. Portanto, a avaliação, até no PT, é de que Lula não teria problemas em entregar essa coordenação política a um aliado do Republicanos, leal ao governo e ao presidente.
Para promover essa mudança, o presidente terá que contrariar a ala do PT que não quer nem pensar em entregar a articulação a outro partido. Tudo porque Dilma fez isso lá atrás, entregou essa coordenação ao MDB de Michel Temer e terminou sofrendo um processo de impeachment. Porém, Lula tem dito aos seus correligionários que, no passado, ele já entregou essa coordenação a integrantes de outros partidos e não teve o menor problema.
Alguns petistas comentam que o atual chefe da Defesa, José Mucio Monteiro, foi um bom ministro da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, cargo que assumiu em novembro de 2007. Àquela época, Lula, ao chamar Mucio para o cargo, ouviu do deputado que o PTB, à época um partido forte, havia sido contrário à reeleição do petista e que havia uma ala da bancada contrária à sigla do presidente. Lula, então, respondeu: "Os meus, eu já tenho, preciso que você traga os seus".