Título: Maré positiva traz enxurrada de dólares ao pregão da bolsa
Autor: Loureiro, Ubirajara
Fonte: Jornal do Brasil, 11/05/2008, Economia, p. E3

Recordes sucessivos inflam negócios com US$ 4,9 bi em poucos dias.

A bolsa de valores brasileira está "bombando". É a segunda maior das Américas, com a união da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). O neologismo para o aquecimento dos negócios vem sendo usado para indicar sucesso ou grande êxito, e aplica-se bem à atual fase do mercado de ações, que vem batendo recordes sucessivos: o valor das operações passou de R$ 59,6 bilhões, em janeiro de 2007, para R$ 121,5 bilhões em abril passado e a média diária de operações à vista saltou de R$ 3,08 bilhões para R$ 9,1 bilhões no mesmo período.

Coroando esta fase áurea, a participação líquida de investidores estrangeiros no pregão da Bovespa ¿ 33,4% do giro total em abril ¿ saltou de R$ 1,2 bilhão em abril de 2007 para R$ 6 bilhões em abril de 2008. E, somente no primeiro pregão de maio, certamente em decorrência da classificação do Brasil no grau de investimento, as aplicações na bolsa brasileira por não residentes no país já chegavam a R$ 4,9 bilhões.

Pano de fundo desse quadro, o Ibovespa, índice que expressa a evolução média dos preços das 66 ações mais negociadas da Bolsa de Valores de São Paulo saiu de 48 956 pontos, em abril 2007, para o recorde de 70.174 pontos no dia 5 deste mês. E analistas do Citibank, já prevêem que feche o ano em 74 mil pontos. As ações do Ibovespa respondem por mais de 90% do volume financeiro diário das operações e são o melhor indicativo da tendência do mercado.

O resultado prático desse comportamento da Bolsa nos últimos meses é que, por exemplo, uma aplicação em ação de primeira linha poderia render 50,78% num período em que a inflação acumulada ficou em 1,58%, e rendimento da poupança foi de 2,28%.

Outro exemplo, para um período de 12 meses encerrado em abril: a inflação ficou abaixo de 10%, enquanto ações que sequer tiveram pico de alta na relação da bolsa ofereceram 101,95% de ganho a seus detentores. Uma outra opção de investimento, fundos de renda fixa de ponta de linha deram rendimento de 22%. A dificuldade, para este último caso, é que o rendimento restringe-se a aplicações com valor mínimo da ordem de R$ 100 mil.

Há, porém, o outro lado da história. Altamente sensível, o mercado de ações reage com baixa diante dos fatores mais distantes, como por exemplo, há alguns anos, com a desvalorização da moeda da Malásia, que arrastou instituições financeiras de meio mundo. Carentes de recursos, em vista de prejuízos em operações de alta complexidade, grandes fundos e investidores internacionais liquidaram suas posições no Brasil e a bolsa chegou a registrar perdas de 40%.

O mercado também registra que, em passado não muito distante, além de perdas drásticas de patrimônio, houve até casos de investidores que operavam a descoberto, ou seja que operavam contando com alta e viram-se, de repente, diante de baixa que representava não apenas perdas, mas até insolvência.

Por isto, um velho e atuante operador de pregão recomenda a leigos: "bolsa é investimento de risco e de médio e longo prazos. A primeira regra é comprar e ficar quieto. Depois, se começar a subir muito, realizar lucros e diversificar investimento. Em caso de baixa, que também passa, é aguentar o tranco até a tempestade passar, sob pena de realizar perdas".