Título: Infra-estrutura amarga carência de investimentos
Autor: Totinick, Ludmilla
Fonte: Jornal do Brasil, 11/05/2008, Economia, p. E4

Reflexo da falta de obras atinge diversos setores da economia.

O Brasil precisa realizar investimentos urgentes em infra-estrutura para crescer e promover o desenvolvimento econômico. Esta é a opinião unânime de economistas e representantes do setor produtivo. Carente de um eficaz programa de investimento em diversos setores há aproximadamente 30 anos, o país viu na conquista do grau de investimento, concedido dia 30 pela agência de classificação de risco Standard & Poors (S&P), a saída para suprir essa lacuna, representada pelo investidor estrangeiro, atraído pelo cenário positivo em que se encontra o Brasil.

Um exemplo desse atraso é a malha ferroviária do país. Em 1958, eram 38 mil quilômetros. Hoje encolheu de tamanho para 28,5 mil quilômetros. De acordo com o estudo da Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib), ao qual o JB teve acesso com exclusividade, os investimentos em infra-estrutura estão distantes da necessidade.

Entre 2003 e 2006, foram investidos pelos setores públicos e privados, em média, algo entre 55% e 75% da necessidade anual de investimentos, dependendo do ano e do setor em questão. Durante esse período, a Abidb defendeu que o Brasil precisava de um volume mínimo de R$ 87,7 bilhões de investimentos por ano, em setores como energia elétrica, transportes, petróleo e gás, telecomunicações e saneamento.

Esse montante, já defasado devido a novas necessidades de investimento para acompanhar o crescimento da economia, não significa que, se totalmente aplicado, o Brasil ampliaria o atendimento em diversos serviços. Mas já evitaria que as deficiências em infra-estrutura sejam um impedimento e um gargalo ao crescimento econômico. Para universalizar e remover todos os problemas de insuficiência na oferta seria necessário um volume maior de recursos, segundo a associação.

Impossibilidade de recuperar

Segundo a Abdib, cada ano que uma obra de infra-estrutura deixa de ser realizada gera prejuízos ao bem-social e à produtividade, que são irrecuperáveis. Quando o investimento em saneamento deixa de ser feito, o sistema de saúde tem de gastar um recurso que poderia ser utilizado em melhorias.

Quando as estradas não recebem recursos para a manutenção e restauração, os caminhões deixam boa parte da safra de grãos pelo caminho. Sem investimento adequado em manutenção, a vida útil da estrada diminui e é necessário antecipar investimentos em restauração.

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, acredita que o setor de infra-estrutura será o mais beneficiado com a elevação do Brasil para grau de investimento.

Segundo ele, já havia um fluxo forte nessa área, sobretudo por parte da Espanha. Co mo o grau de investimento, deve aumentar ainda mais a confiança no Brasil, inclusive entre investidores mais tradicionais no país, como Estados Unidos e Alemanha.

A Associação Brasileira de Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) faz coro com essa opinião. Segundo ela, os investimentos realizados ainda não são suficientes para o cobrir o déficit do país.

De acordo com vice-presidente da Abimaq, José Velloso Dias Cardoso, a taxa de investimento cresceu, passou de 16,5% para 17,6% do PIB em 2007, mas ainda é muito pouco, pois deveria ser em torno de 25% para garantir um crescimento sustentado da economia do país.

Em alguns países em desenvolvimento a taxa de investimento é em torno de 30% do PIB, como a Índia, Coréia do Sul e Tailândia.

¿ A taxa de investimento no Brasil é a mesma de países desenvolvidos, que já fizeram a lição de casa, ou seja, para as nossas necessidades ainda é muito baixa ¿ ressaltou José Velloso.

Outra crítica da Abimaq foi o custo Brasil, um dos mais altos do mundo, que inibe a intenção de investimentos, principalmente em infra-estrutura.

Recente estudo apresentado no Fórum Econômico Mundial, em Davos, apontou o sistema tributário brasileiro como o pior entre os 127 países pesquisados. O peso da regulação estatal deixou o Brasil na 125ª posição e em qualidade de educação ocupou na 117ª posição. Um exemplo do custo Brasil com a falta de infra-estrutura é o preço de exportação de um contêiner. No Brasil custa US$ 895, na Índia, US$ 864, e na China US$ 335.