Correio Braziliense, n. 22598, 31/01/2025. Brasil, p. 6
Cobrança às nações ricas do dinheiro prometido
Victor Correia
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou, ontem, dos países ricos que cumpram o Acordo de Copenhague, quando, em 2009, se comprometeram a destinar US$ 100 bilhões anuais — meta jamais alcançada — às nações menos desenvolvidas para o financiamento de medidas de mitigação das mudanças climáticas. Isso porque, segundo Lula, se o acordo que fecharam não for levado a sério, as conferências da ONU para as Mudanças Climáticas (COPs) serão desmoralizadas. “Os países se comprometeram a dar U$ 100 bilhões para os países, por ano, em Copenhague, e não deram. Agora, a necessidade é de US$ 1,3 trilhão, e tenho certeza de que não vão dar. É preciso que a gente faça uma discussão séria se queremos discutir a questão do clima de verdade, se queremos fazer uma transição energética de verdade, ou se vamos brincar”, exigiu, para acrescentar: “Temos uma luta muito grande nessa questão do clima. Não é uma coisa pequena. Se a gente não fizer uma coisa forte, essas COPs vão ficar desmoralizadas. Porque, se aprova as medidas, fica tudo muito bonito no papel, e depois nenhum país cumpre”.
O Brasil sedia, em novembro, a COP 30, em Belém, e uma das principais metas do encontro é, justamente, alcançar esse US$ 1,3 trilhão em investimentos. Na COP 29, em Baku, no Azerbaijão, em 2024, os países aprovaram a destinação de um total de US$ 300 bilhões por ano até 2035, bem longe da meta trilionária fechada na capital dinamarquesa, na COP 15, quase 16 anos atrás. O resultado foi considerado um fracasso pelos analistas e um “insulto” pelos países em desenvolvimento.
Fator Trump
O objetivo de US$ 1,3 trilhão é considerado difícil e foi admitido pelo presidente da COP 30, embaixador André Corrêa do Lago. Inclusive, ele frisou, ao ser anunciado por Lula como principal negociador da conferência, que a chegada de Donald Trump à Casa Branca é um fator a dificultar ainda mais que se alcance tal objetivo. Mesmo porque, logo no discurso de posse, o presidente dos Estados Unidos deixou evidente a antipatia que tem pelo tema — além de deixar claro que fomentará a indústria norte-americana de combustíveis fósseis. “Em qualquer parte da Terra, dão palpite sobre a Amazônia, todo mundo é especialista, todo mundo quer proteger. Então, vamos fazer (a COP) lá, na cidade de Belém, para que as pessoas saibam o que é a Amazônia’, frisou, comentando, ainda, a saída dos EUA do Acordo de Paris. “Trump acabou de anunciar a saída do Acordo de Paris, mas os EUA já não tinham cumprido o Acordo de Kioto. Os países se comprometeram a dar US$ 100 bilhões por ano para os países em desenvolvimento e, até hoje, não deram”, frisou.
Na coletiva de ontem, disse, também, que organizará uma reunião com ministros da agricultura dos países africanos, em maio, para discutir medidas de combate à fome. Será o primeiro encontro da Aliança Global de Combate à Fome, lançada na reunião do G20, no ano passado, no Rio de Janeiro.
Frase
“O que aconteceu em relação à Amazônia não foi em área desmatada, foi em floresta primária. Isso acende todas as luzes. Por isso, esta é a COP da implementação. Uma COP não é Copa do Mundo, não é Olimpíada. Ainda mais no contexto em que estamos vivendo. Esta é a COP da sobriedade”
Ministra Marina Silva, do Meio Ambiente e Mudança do Clima