Título: Indústria vê medidas com desconfiança
Autor: Severo, Rivadávia
Fonte: Jornal do Brasil, 12/05/2008, Economia, p. A17

Entre as metas está o aumento da taxa de investimentos dos atuais 16,5% para 21% do PIB.

Brasília

A indústria desconfia da política industrial do governo. Os benefícios que as medidas poderão gerar para a economia estariam ameaçados, segundo o setor, se não houver uma coordenação única do governo para o programa e se não vierem acompanhadas de ações macroeconômicas alinhadas com o pacote de incentivos. Sairiam prejudicadas as exportações, com reflexo negativo na balança comercial, que está apresentando déficits.

Segundo o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, o pacote de medidas que deve contemplar, pelo menos, 24 setores da indústria, pode enfrentar problemas de gestão se não houver uma boa coordenação interna do governo, porque está distribuído em três ministérios. Além da necessidade de ser acompanhado de políticas macroeconômicas para que não tenha seus efeitos reduzidos. O representante da indústria quer taxas de juros menores e o dólar com uma melhor cotação ante o real para impulsionar as exportações.

Câmbio

De acordo com Monteiro Neto, se o câmbio continuar com a tendência de desvalorização do dólar, irá "anular inteiramente os ganhos que possam ser oferecidos pela política industrial".

Ele lembrou que a valorização do real frente ao dólar decorre, "em grande medida, da taxa de juros que é influenciada pela política fiscal, que não ajuda. É um círculo vicioso. O mercado percebe que os gastos do governo continuam em alta".

Monteiro Neto reconheceu que os instrumentos de desoneração tributária são expressivos.

¿ Embora saudando as medidas, entendemos que é necessária uma coordenação única. Também temo que a política macroeconômica possa vir a anular os ganhos que a política industrial possa gerar ¿ avaliou o presidente da CNI.

O pacote costurado pelos Ministérios do Desenvolvimento, da Fazenda e de Ciência e Tecnologia visa ao estímulo das exportações e à inovação tecnológica. É um conjunto de incentivos fiscais de cerca de R$ 20 bilhões para a indústria até 2010, junto com outras medidas que procuram desonerar a folha de pagamento das empresas de uma parte da contribuição patronal à Previdência Social, começando pelas empresas que exportam softwares. Os cortes nos tributos podem alcançar o montante de R$ 8 bilhões.

Metas

O programa tem quatro metas: 1) aumentar a taxa de investimento do país de 16,5% do Produto Interno Bruto (PIB) de 2006, para 21% do PIB em 2010;

2) elevar os gastos em pesquisas de 0,51% do PIB de 2006 para 0,65% em 2010;

3) ampliar de 1,1% para 1,25% a participação das exportações brasileiras no mercado internacional; e

4) elevar em 10% o número de micro e pequenas empresas com atuação no mercado externo.

Seis setores devem ser qualificadas na categoria "especial": saúde, energia, tecnologia da informação, biotecnologia, defesa e comunicação.

O segundo pacote de medidas para a indústria na gestão Lula será anunciado hoje no Rio de Janeiro e promete reunir a maioria dos 27 governadores e ministros em uma solenidade que o Palácio do Planalto pretende que tenha uma grande repercussão política.