O Globo, n 32.306, 18/01/2022. Política, p. 6
Weintraub diz que
Bolsonaro soube de operação contra Flávio
Bernardo Yoneshigue
Ex—ministro relatou que presidente informou
auxiliares antes de Furna da Onça ser deflagrada
O
ex-ministro da Educação Abraham Weintraub contou em
entrevista ao podcast Inteligência Ltda. que, durante uma reunião em novembro
de 2018, logo após as eleições, o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse saber
que estava “para aparecer uma acusação” sobre o seu filho, o senador Flávio
Bolsonaro (PL-RJ).
A
declaração, diz Weintraub, foi dada ainda na fase de
transição do governo, um mês antes, portanto, de o Conselho de Controle de
Atividades Financeiras (Coaf) divulgar um relatório, como parte da operação
Furna da Onça, que apontou movimentações financeiras de mais de R$ 1,2 milhão
consideradas suspeitas pelo ex-assessor de Flávio, Fabrício Queiroz.
—
Eu vou contar então uma coisa aqui que eu acho que eu nunca contei em público.
Eu tava no governo de
transição, estamos falando em novembro, e eu fui chamado em uma sala com pouca
gente. Ministros, pessoas assim (...). Aí, juntou assim numa mesa comprida e
(Bolsonaro) falou: “Seguinte, eu chamei pelo seguinte, tá para aparecer uma
acusação, tá pegando esse cara aqui”, apontou para o Flávio, “e o governo não
tem nada a ver com ele. Se ele cometeu alguma coisa errada, ele é que vai pagar
por isso” — disse Weintraub, em entrevista no
domingo.
Weintraub afirma que, além de Bolsonaro e Flávio,
estariam no encontro “alguns ministros” do presidente, e cita Onyx Lorenzoni
(atual titular da pasta do Trabalho e Previdência), o general da reserva Santos
Cruz (ex-ministro da Secretaria-Geral da
Presidência), Gustavo Bebianno (ex-ministro da Secretaria-Geral
da Presidência, morto em março de 2020), e Jorge Oliveira (ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência).
De
acordo com a fala de Weintraub, o presidente teria
conhecimento sobre a possibilidade de uma acusação contra seu filho antes mesmo
de a Furna da Onça, desdobramento da Lava-jato no Rio, ter sido deflagrada.
Alvo da operação, Queiroz, que foi assessor de Flávio Bolsonaro em sua época como
deputado estadual do Rio, foi posteriormente apontado pelo Ministério Público
como operador do esquema das “rachadinhas”, prática
em que funcionários devolviam parte de seus salários, no gabinete de Flávio na
Alerj.
Ao
colunista do GLOBO Lauro Jardim, Santos Cruz confirmou que estava na reunião,
mas disse que não tinha entendido a declaração de Bolsonaro como um vazamento
de informação:
—
Penso que o presidente comentou porque estava saindo na mídia naquele dia. Não
vejo nenhum vazamento, nenhuma antecipação.
Em
novembro, o Supremo Tribunal Federal anulou quatro dos cinco relatórios feitos
pelo Coaf que embasavam a investigação, além de ter negado pedido do MP para
devolver a investigação à primeira instância.
A
suspeita de que informações sobre a operação teriam sido vazadas para a família
Bolsonaro não é nova. Em fevereiro de 2020, o empresário Paulo Marinho — que é
suplente de Flávio e foi aliado do presidente em 2018 — já havia afirmado que o
senador teria sido informado sobre a investigação por um delegado da Polícia
Federal antes do segundo turno das eleições. Na época, Bolsonaro disse que
Marinho teria que apresentar provas sobre o suposto vazamento
.