Título: Anunciada a demissão do espião
Autor: Falcão, Márcio
Fonte: Jornal do Brasil, 13/05/2008, País, p. A3

Líder do governo diz que Aparecido solicitou exoneração. Casa Civil nega ter recebido o pedido.

Brasília

O secretário de Controle Interno da Casa Civil, José Aparecido Nunes Pires, apontado como o responsável pelo vazamento do dossiê com gastos sigilosos do casal Fernando Henrique Cardoso, não vai mais fazer parte dos quadros do órgão. Sem aparecer desde sexta-feira no Palácio do Planalto, quando se tornou público seu envolvimento no caso, o servidor pediu, ontem, afastamento do cargo. A Casa Civil, até a noite de ontem, não recebeu nenhum pedido oficial de desligamento.

Laudo preliminar do Instituto de Tecnologia da Informação (ITI) indica que José Aparecido fez uma troca de e-mails com André Eduardo da Silva Fernandes, que trabalha no gabinete do senador Álvaro Dias (PSDB-PR). Seria nessa troca de mensagens que o funcionário da Casa Civil teria repassado o dossiê. Ontem, Fernandes prestou depoimento à Polícia Federal por mais de três horas e, segundo fontes da PF, teria confirmando que recebeu o dossiê encaminhado por José Aparecido, que não adulterou os dados e que o dossiê chegou a suas mãos sem que tivesse noção do que se tratava. O teor completo do depoimento não foi conhecido porque a investigação corre em segredo de Justiça.

Sem confiança

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), que esteve na tarde de ontem com o ministro das Relações Institucionais, José Múcio, confirmou a saída de José Aparecido da Casa Civil.

¿ O funcionário pediu afastamento. Cabe à Casa Civil responder (ao seu pedido). Ele não tem mais confiança para se manter em qualquer cargo no governo Lula ¿ afirmou Jucá.

Jucá garante que a maioria governista, que dita o ritmo das investigações - da CPI Mista dos Cartões vai apoiar a convocação de José Aparecido e do assessor do senador Álvaro Dias, programada para ser votada na sessão de hoje.

Apesar da confiança governista, nos bastidores, alguns petistas avaliam que é melhor atrasar a ida dos funcionários à comissão de inquérito. O entendimento é de que a participação de Aparecido pode ser desastrosa se ele apontar quem, no Planalto, ordenou a confecção do dossiê. Há entre os aliados quem defenda a idéia de que José Aparecido deve assumir a responsabilidade sozinho, com o propósito de prejudicar sua chefe imediata a secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, que é braço direito da ministra Dilma Rousseff.

A interlocutores, no entanto, Aparecido disse que está disposto a "contar tudo" para não ser responsabilizado isoladamente pelo dossiê. O ainda secretário de Controle Interno da Casa Civil já teria contratado um escritório de advocacia para preparar sua defesa. Servidor de carreira do Tribunal de Constas da União, a expectativa é de que assim que seu afastamento seja publicado no Diário Oficial da União, ele retorne ao órgão de origem.

Descolamento

Na avaliação da oposição, o afastamento de José Aparecido pode ser favorável para se conhecer o processo de confecção do dossiê. Ontem, o senador Álvaro Dias se esforçou para descolar sua participação no episódio. O tucano negou que tenha participação no vazamento porque o crime está na elaboração do material para ser utilizado para pressão política. Álvaro também confirmou que só teve conhecimento da origem do dossiê há duas semanas porque seu assessor tinha pedido sigilo da fonte e que logo em seguida informou à Policia Federal.

¿ O vazamento ocorre na origem, lá no Palácio do Planalto, não aqui no destino. Me considero alguém que denuncia o crime, a falcatrua. Adotei a forma mais adequada para a denúncia, cabe a mim decidir como denunciar - disse o tucano.