Valor Econômico, 07/05/2020, Brasil, p. A3

Petrobrás aumenta em 12% o preço da gasolina

André Ramalho


Em meio à queda de braço dentro do governo sobre a proposta de aumento da tributação da gasolina, um pleito do setor sucroalcooleiro, a Petrobras vai aumentar em 12% a partir de hoje, nas refinarias, o preço do combustível. O reajuste da gasolina, o primeiro desde fevereiro, acontece em meio a uma ligeira recuperação do petróleo, nos últimos dias, e tende a melhorar, ao menos em algumas praças, a competitividade do etanol.

Os preços da gasolina da Petrobras acumulam uma queda de 46,5% em 2020 e de 39% nas refinarias desde março, quando eclodiu o choque de preços do petróleo. Nas bombas, esse recuo tem sido menor, mas o suficiente para preocupar os produtores de etanol, que nos últimos anos se acostumaram a ver a gasolina encarecer e perder mercado. Com base nos dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), a queda acumulada dos preços do litro da gasolina, para o consumidor final, é de 13,8% em 2020 e de 13,3% desde março.

Mesmo com os preços baixos, as vendas da gasolina estão em queda. No primeiro mês de medidas de restrição à circulação de pessoas, como estratégia de enfrentamento à pandemia da covid-19 no Brasil, o consumo do derivado caiu 13,3% em março, ante igual período de 2019, para 2,697 bilhões de litros - o volume mais baixo para o mês desde 2010. No primeiro trimestre, a queda foi de 2,7%. O etanol hidratado, por sua vez, recuou 15,7% em março e 3,6% nos três primeiros meses do ano.

O aumento de hoje nas refinarias interrompe uma sequência de seis ajustes para baixo seguidos feito pela Petrobras desde a crise do petróleo, no início de março. Nos últimos dias, o preço do petróleo recuperou parte do tombo recente que levou o barril do tipo Brent a ser cotado dos US$ 20, na semana retrasada. Ontem, a commodity fechou o dia a US$ 29,72.

O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, disse na terça-feira que a empresa “está pronta” para elevar seus preços sempre quando julgar necessário. “Não temos nenhuma dificuldade em subir preço, não há nenhuma proibição”, afirmou.

O executivo já se posicionou outras vezes de forma contrária à medida. Em abril, ele destacou que “capitalistas inimigos do capitalismo” estavam fazendo pedidos de impostos de proteção. E alertou que a elevação dos tributos sobre a gasolina poderia ter consequências sérias, como desabastecimento de gás liquefeito do petróleo (GLP) - cuja produção, nas refinarias, está atrelada a da gasolina.

O setor de revenda também é contra o aumento da tributação e enviou carta ao presidente Jair Bolsonaro pedindo para que ele não recorra à medida. Já a Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom) defende que aumentar impostos, para proteger o etanol, não é necessário, se a Petrobras mantiver seus preços alinhados com a paridade internacional. Segundo a entidade, porém, mesmo com a alta de hoje, a petroleira continua vendendo o derivado abaixo da paridade. A Abicom considera, em suas contas, as despesas para internalização do produto até o porto e acrescenta a esses valores os custos com taxas portuárias, armazenagem e frete até o ponto de entrega. Já a Petrobras alega que o preço de paridade internacional “não é um valor absoluto, único e percebido da mesma maneira por todos os agentes” e varia de agente para agente.