Correio Braziliense, n. 22600, 01/02/2025. Economia, p. 7
Desemprego desaba em 12 meses, diz IBGE
Raphael Pati
A taxa média de desemprego no país nunca esteve tão baixa, pelo menos desde o início da série histórica. Segundo os dados publicados ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2024, esse índice ficou em 6,6% na média acumulada dos últimos 12 meses. Isso representa uma redução de 1,2 ponto percentual em relação ao ano anterior, quando ficou em 7,8%.
Somente no trimestre encerrado em dezembro — o último do ano —, a taxa média de desemprego foi de 6,2%, pouco abaixo da estatística divulgada para julho e setembro, que ficou em 6,4%. Historicamente, o período de fim de ano tem uma taxa menor de desemprego, com o aumento da contratação de trabalhadores temporários, sobretudo no comércio e serviços.
O último recorde de menor taxa média de desemprego no país foi registrada em 2014, quando ficou em 7%. Por outro lado, a maior média vem de 2021, quando chegou a 14%, ainda no contexto de crise sanitária provocada pela pandemia de covid-19.
De 2023 para 2024, houve redução de 1,1 milhão de pessoas no contingente de população desocupada média. Nesse período, o número caiu de 8,5 milhões para 7,4 milhões de indivíduos.
A população ocupada média, no ano passado, foi a maior de toda a série histórica, com 103,3 milhões de cidadãos no total. Isso indica um avanço de 2,6%, na comparação com 2023 — quando foram contabilizados 100,7 milhões de trabalhadores.
O IBGE também mostrou que a estimativa de empregados com carteira assinada no ano passado cresceu 2,7% em relação ao que foi contabilizado em 2023.
Diante disso, o número total de trabalhadores contratados chegou a 38,7 milhões em 2024, outro recorde apontado na pesquisa divulgada ontem. Também houve crescimento na quantidade de pessoas do setor privado registro formal: passou para 14,2 milhões de pessoas, um aumento de 6%.
Em 2024, o rendimento médio real estimado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) foi de R$ 3.225, indicando um aumento de 3,7% em relação a 2023. Esse valor também é o maior da série histórica, enquanto que o pior resultado é o de 2022, quando o rendimento chegou a R$ 2.901.
Otimismo
Para o economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Rodolpho Tobler, o destaque da pesquisa foi a recuperação mais forte do emprego formal. Ele salienta que o emprego formal é associado diretamente a funções de maior produtividade e maior rendimento, além de terem, geralmente, os maiores salários. “De maneira geral, o mercado de trabalho teve um ano muito positivo. Contribuiu bastante para uma melhora no orçamento das famílias. Ou seja, mais gente trabalhando, com salários maiores”, avalia.
Na visão de Evilasio Salvador, economista e professor da Universidade de Brasília (UnB), os dados da Pnad mostram que a economia brasileira está em um processo de recuperação econômica, mesmo com uma taxa de juros elevada (13,25% ao ano). “As medidas tomadas pelo governo e a retomada da política de investimento e de gastos governamentais em algumas áreas têm contribuído, de maneira decisiva, para uma retomada, ainda que tímida, do crescimento econômico. Com isso, há efeitos positivos sobre o mercado de trabalho formal”, explica.
O otimismo também é reforçado pelo economista Dante Araújo, da Valor Investimentos. Ele acredita que, com novos dados positivos no cenário econômico, as possibilidades de um crescimento menor dos juros este ano ganham força.
“A expectativa continua sendo de um aumento da Selic, mas o ponto máximo pode ser reduzido com as informações que saíram. O que isso quer dizer? Em vez de o Banco Central precisar elevar a taxa até 15,5%, por exemplo, pode ser que pare por volta de 15%, 14,75%”, estima.
Mínimo contribui
De acordo com análise da Tendências Consultoria, a política de valorização do salário mínimo e o avanço no perfil educacional dos trabalhadores também contribuíram para o crescimento dos rendimentos. Para 2025, os analistas esperam uma desaceleração no aumento do rendimento real, diante dos desafios relacionados à baixa produtividade e à inflação acima da meta. Ainda assim, o crescimento deve superar o da população ocupada, sustentando a massa de rendimento. O economista Rodolpho Tobler frisa que o mercado de trabalho aquecido melhora as condições de negociação. Entre os destaques de 2024, há a construção civil (registrou avanço de 4,4% no último trimestre do ano) e os transportes (que subiram 5% no mesmo período).
Relação dívida-PIB em 2024: 76,1%
A relação entre dívida e Produto Interno Bruto segue em crescimento. Ao final de 2024, a Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) chegou a de R$ 9 trilhões, o que representa 76,1% do PIB do país. Na comparação com 2023, essa relação subiu 2,2%, com a elevação atribuída, principalmente, à incorporação de juros nominais, além do efeito da desvalorização do real no ano passado e do reconhecimento de dívidas. Segundo o Relatório de Estatísticas Fiscais do Banco Central, o crescimento do PIB nominal nesse período contribuiu para amenizar o aumento da dívida. Apesar de ainda não haver dados consolidados sobre a atividade econômica no país em 2024, a autoridade monetária estima que a economia cresceu em torno de 3,5% nesse período.