O Estado de S. Paulo, n. 47950, 28/01/2025. Política, p. A10
Deportações em massa criam desafio para o Brasil
Jéssica Petrovna
A pressa de Donald Trump em cumprir a promessa de deportar milhões de imigrantes ilegais impõe um desafio para o governo brasileiro: se equilibrar entre a necessidade de garantir a integridade de seus cidadãos e as ameaças do republicano.
Estima-se que 230 mil brasileiros vivam ilegalmente nos EUA. Por isso, a posição brasileira é delicada. “Para Trump, é interessante não só deportar imigrantes em larga escala, mas também esse tipo de ação muito rigorosa e até teatral”, disse Mauricio Santoro, colaborador do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marina. “Isso porque ele quer passar a mensagem de que as pessoas não devem migrar para os EUA, a não ser que tenham autorização.”
No caso das deportações, o Brasil poderia negociar – individualmente ou em coordenação com outros países – condições melhores para o retorno dos seus cidadãos. O diálogo, contudo, deve ser difícil. Trump deixou claro como vê as relações com a América Latina, especificamente com o Brasil, no seu retorno à Casa Branca: “Eles precisam de nós. Muito mais do que nós precisamos deles.”
MEDO. Marcelo Gondim, advogado brasileiro especializado em migração para os EUA, viu a procura por atendimento no seu escritório, o Gondim Law Corp, em Los Angeles, disparar nos últimos dias. “Estão pedindo um número do escritório que atenda 24 horas para o caso de alguma emergência. As pessoas estão com muito medo”, relata.
Dados oficiais dos EUA mostram que 6.776 brasileiros foram deportados durante o primeiro mandato de Trump. Outros 7.168 foram mandados de volta ao País sob o governo de Joe Biden, de acordo com o Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE na sigla em inglês).
Desde que o republicano reassumiu a Casa Branca, há uma semana, autoridades americanas prenderam cerca de 2,6 mil imigrantes ilegais – um número que o presidente considerou baixo e exigiu que aumente nas próximas semanas. •