Correio Braziliense, n. 22603, 04/02/2025. Cidades, p. 15
Eurides Brito morre aos 87 anos
Letícia Mouhamad
Ana Maria Campos
Pablo Giovanni
Com mais de 50 anos dedicados à política, a ex-parlamentar Eurides Brito faleceu, ontem, após passar 40 dias internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Santa Lúcia Gama, para tratamento de complicações após quadro de sepse (infecção generalizada). A também professora, que completaria 88 anos em 28 de fevereiro, foi lembrada por amigos e autoridades por sua atuação de destaque em defesa da educação.
Em nota divulgada nas redes sociais, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), la mentou o falecimento da ex-parlamentar. “É com profunda tristeza que recebemos a notícia do falecimento da eterna professora Eurides Brito, cuja passagem pelo Governo do Distrito Federal continua sendo um marco na transformação do ensino público de qualidade, tendo se destacado no combate ao analfabetismo. Política, ex-deputada federal e com currículo invejável no seu campo, Eurides nos deixou um legado de profissionalismo e humanidade. Nossas sinceras condolências aos amigos e familiares”, escreveu.
Eurides foi deputada federal pelo DF, entre 1991 e 1993, e distrital, de 1999 a 2007. Natural de Capanema (PA), formou-se em pedagogia, história e geografia pela Universidade Federal do Pará, além de exercer o cargo de secretária de Educação três vezes. Com pós-doutorado em administração da educação, obtido na Universidade da Califórnia, em Los Angeles (EUA), ela é autora de vários livros sobre ensino e pedagogia.
Trajetória
Após concluir a graduação, a educadora exerceu os cargos de secretária de Educação e diretora do Instituto Grão-Pará, além de compor o conselho técnico da Fundação Educacional do Pará. Dirigiu o Departamento de Ensino Fundamental do Ministério da Educação, durante o governo do presidente Emílio Médici e, em 1974, tomou assento no Conselho Nacional de Educação.
Em 1977, tornou-se professora da Universidade de Brasília e vice-diretora da Faculdade de Educação, até ocupar o cargo de secretária de Educação do DF em 1979, nos governos de Aimé Lamaison e José Ornelas. Em 1998 e 2002, elegeu-se deputada distrital pelo PMDB, até assumir novamente o posto de secretária de Educação, no terceiro governo de Joaquim Roriz, com quem tinha uma relação de amizade e influência na área de educação de seus governos.
Na Câmara dos Deputados, fez parte de diversos colegiados legislativos, entre eles, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou irregularidades na Previdência Social, em 1991, e a comissão especial criada para fiscalizar os atos do Poder Executivo, em 1992.
Durante sua trajetória política, foi acusada de envolvimento na Operação Caixa de Pandora e, por isso, teve o mandato cassado na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). Ela se recusou a renunciar e alegou inocência em relação às acusações feitas pelo delator da investigação, Durval Barbosa. Em pronunciamento, na CLDF, disse: “A reputação é o que é dito pelos outros, já o caráter é reconhecido por Deus”.
Legado
Ao Correio, a ex-governadora Maria de Lourdes Abadia (União Brasil), lamentou a perda de Eurides. “Caminhamos juntas por um bom tempo, quando ela foi secretária. O trabalho dela foi muito importante para o DF. Brasília perdeu uma educadora brilhante”, declarou.
“Ela partiu muito cedo. O que ela fez para a Ceilândia, nas escolas, foi muito importante para o desenvolvimento da região. Ela era uma mulher muito ativa, presente, que acompanhava as coisas. Quando perdemos alguém como ela, é muito triste. Ela ajudou muito Brasília. Eu devo muito a ela, assim como a capital federal. Uma grande perda”, completou a ex-chefe do Executivo local.
O também ex-governador José Roberto Arruda destacou a importante liderança de Eurides na educação pública e valorização dos profissionais de ensino. “Eu a conheci ainda nos anos 1980, ela era secretária de Educação e Cultura e eu, diretor da Novacap. Com ela e com o Carlos Fernando Matias de Souza concluímos as obras do teatro nacional”, declarou, em nota.
“A professora Eurides, com sólida formação acadêmica e já então muito experiente, liderava uma revolução na educação pública, centrada na valorização dos profissionais de ensino. Ao mesmo tempo, cuidava com especial carinho da escola de música, da orquestra e de todas as manifestações culturais. O seu entusiasmo contagiava”, acrescentou.
A secretária de Educação do DF, Hélvia Paranaguá, enviou nota em que destacou: “O falecimento da professora Eurides Brito deixa uma lacuna enorme, dada a grande contribuição que ela trouxe para a educação pública no Distrito Federal. Seu mérito envolve desde a valorização da carreira magistério público até a ampliação de programas como o ‘Sucesso no Aprender’, que englobava ações nas mais diversas áreas da Educação”.
De acordo com nota da pasta, Eurides “não foi apenas uma referência institucional, mas uma mestra e mentora generosa, que compartilhou conhecimento, valores e a paixão pela educação. A titular da secretaria sublinhou: “Seu legado permanece vivo em cada estudante que encontrou no ensino um caminho de transformação e em cada profissional que se inspira na sua trajetória de luta e dedicação”.
Elogios
A vice-governadora, Celina Leão (PP), também prestou condolências. “Ela foi uma mulher de inteligência singular, cultura vasta e dedicação incansável à educação e à vida pública. Eurides deixou uma marca que não será apagada na história da educação no Distrito Federal. Como ex-deputada federal, ex-deputada distrital e ex-secretária de Educação, sua trajetória foi pautada pelo compromisso sério com o ensino e o desenvolvimento de Brasília”, escreveu em suas redes.
O secretário de Governo, José Humberto Pires, ressaltou o legado em defesa da educação deixado pela ex-legisladora. “É com profundo pesar que recebemos a notícia do falecimento da ex-deputada e professora, Eurides Brito. Neste momento de dor e tristeza, expressamos nossos mais sinceros sentimentos aos familiares e amigos [...] Defendia a Educação com muito amor”, disse ao Correio.
Pelas redes sociais, a senadora Damares Alves (Republicanos DF) manifestou pesar pelo faleci mento da docente, destacando a trajetória de sucesso que inspirou outras mulheres a se engajarem na política. “Uma mulher forte e que soube fazer a diferença. Que Deus conforte os corações dos fa miliares para que possam superar este momento”, afirmou.
O jornalista Paulo Fona, que atuou como porta-voz do Palácio do Buriti nos governos de Joaquim Roriz, lembrou da colega com carinho. “Eurides Brito foi secretária de Educação onde mostrou sua competência na área. Como porta-voz do governo Roriz, ela sempre me ajudou na execução do meu trabalho. Meus sentimentos à família”, lamentou. O velório de Eurides Brito foi reservado à família.