Título: Ministra reúne equipe para se despedir e se recolhe em casa
Autor: Moreira, Marco Antônio; Correia, Karla
Fonte: Jornal do Brasil, 14/05/2008, País, p. A2

Por volta do meio-dia, Marina Silva sentou-se à mesa de reunião com a cúpula do Ministério do Meio Ambiente para comunicar de forma oficial sua saída do comando da pasta. Pouco depois, um emissário da ministra foi enviado ao Palácio do Planalto para entregar a carta de demissão ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A notícia demorou a se espalhar pelos corredores do Planalto. O ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, conversava com prefeitos de Pernambuco quando soube por assessores da saída da ministra, que só comunicou diretamente sua decisão aos senadores Tião Viana (PT-AC) e Sibá Machado (PT-AC), seu suplente na Casa desde 2003. José Múcio ainda tentou ligar para a ministra, que se isolou em seu apartamento, na Quadra 309 Sul, e prometeu se manifestar apenas depois que o Planalto oficializasse sua saída do governo. Enquanto isso, Lula articulava com o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, a nomeação do secretário de Meio Ambiente, Carlos Minc.

Eufemismo

"Esta difícil decisão, Sr. Presidente, decorre das dificuldades que tenho enfrentado há algum tempo para dar prosseguimento à agenda ambiental federal", afirmou Marina na carta enviada a Lula, onde comenta resistências "do governo e da sociedade" à política ambiental que personificou durante os seis anos e meio em que esteve no comando do ministério.

Trata-se de um eufemismo para o nada discreto embate travado dentro do governo entre a ministra ¿ ex-seringueira, senadora mais votada pelo Estado do Acre, nome respeitado como referência mundial no debate sobre preservação do meio-ambiente ¿ e colegas de Esplanada, por quem era rotulada de "xiita" pela rigidez de sua política ambiental. De início, foi a lentidão do processo de licenciamento ambiental que colocou a ministra na berlinda, atacada por colegas por supostamente travar obras relevantes para o governo. Na figura da toda-poderosa chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, Marina encontrou uma de suas principais contendoras no debate que opunha meio ambiente e desenvolvimento dentro do governo Lula. Teve também como adversários o ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau, que, junto com Dilma, pressionava o Ministério do Meio Ambiente e o Ibama por mais rapidez na liberação de licenças ambientais para a construção de hidrelétricas, sobretudo o complexo energético do Rio Madeira, cuja licença prévia foi negada em 2006 porque o projeto do governo ameaçava a reprodução dos grandes bagres.

As rusgas eram freqüentes e, por vezes, públicas. Confrontada com a necessidade de rapidez no andamento das obras do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), carro chefe do governo no segundo mandato do presidente Lula, Marina manteve sua posição.

No início do ano, a notícia da elevação dos índices de desmatamento na Amazônia Legal e o lançamento do plano para conter a derrubada de árvores em região de expansão agrícola colocou a ministra mais uma vez em rota de colisão com companheiros de governo ¿ sobretudo o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, e com o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi.

Dentro do Planalto, especula-se que a gota d"água que motivou a saída de Marina foi a designação ¿ pelo presidente Lula ¿ do ministro da Secretaria de Planejamento de Longo Prazo, Mangabeira Unger, para a coordenação do Plano Amazônia Sustentável (PAS). Mesmo chamada de "mãe do PAS" pelo presidente, Marina acusou o golpe. Teria se sentido desprestigiada. E decidiu sair.