Título: Marina manda levar carta a Lula e deixa o governo
Autor: Moreira, Marco Antônio; Correia, Karla
Fonte: Jornal do Brasil, 14/05/2008, País, p. A2
Irritada, ministra sequer despede-se do presidente. Minc, sondado, pode recuperar espaço do Rio no governo federal, mas Jorge Viana também é cotado.
Brasília
No dia 23 de abril de 2004, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva localizou o então ministro da Educação, Cristovam Buarque, que estava de férias em Portugal. Por telefone, demitiu o assessor. Tudo porque Cristovam, ex-governador de Brasília e senador eleito, rebelava-se, com certa freqüência, contra o chamado "núcleo duro" do governo, que não atendia seus apelos por verbas para a educação.
Ontem, a história, que nem sempre se repete como farsa, se deu de forma invertida. Para surpresa geral, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, pediu demissão do cargo ¿ e de maneira pouco usual. Mandou entregar, ao chefe-de-gabinete da presidência, Gilberto Carvalho, sua exoneração, não se dando ao trabalho de pisar, pela última vez, na sede do governo ¿ o que dá a dimensão exata de seu grau de irritação.
Marina, a exemplo de Cristovam, retoma seu mandato no Senado pelo PT do Acre. Somente o tempo dirá se, a exemplo do ex-colega de ministério, integrará a chamada bancada independente, liderada, informalmente, pelos senadores Jefferson Péres (PDT-AM), Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e Pedro Simon (PMDB-RS). Se estas previsões se confirmarem, o governo terá um problema adicional, pois o suplente da ex-ministra, Sibá Machado, seguia incondicionalmente as orientações da bancada do governo na Casa.
Quando as bolsas de apostas davam como certa a nomeação do ex-governador do Acre Jorge Viana, o presidente surpreendeu e sondou também o secretário de Meio Ambiente do Rio, Carlos Minc, filiado ao PT. Assim, a legenda no Estado pode recuperar parte do espaço no governo federal, perdido a partir da desastrosa passsagem da ex-ministra da Assistência Social Benedita da Silva no primeiro mandato de Lula.
O presidente ficou aturdido com a demissão daquela que é a mais conhecida personalidade no plano externo e principal avalista do programa ambiental de seu governo. Tanto é que não deu a dimensão esperada à agenda de ontem, que incluía audiência com o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), e sequer participou da homenagem à abolição dos escravos, solenidade que se realizou no Palácio do Planalto.