Correio Braziliense, n. 22601, 02/02/2025. Política, p. 6
Eleição confirma o Centrão no comando do Congresso
Israel Medeiros
SENADO | DAVI ALCOLUMBRE (UNIÃO BRASIL-AP)
De volta à presidência do Senado Federal, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) iniciou cedo a sua trajetória na política. Nascido em 1977, tem 47 anos e começou a vida pública em 2001, quando foi eleito vereador de Macapá. Chegou à Câmara dos Deputados dois anos depois, em 2003. Alcolumbre foi reeleito duas vezes e exerceu mandato como deputado federal até 2014, quando se elegeu senador aos 37 anos — à época, o mais novo do país.
Venceu a disputa pela presidência do Senado em 2019, aos 41 anos, durante o governo de Jair Bolsonaro, com os votos de 42 de 81 senadores. Naquele ano, na Câmara, Rodrigo Maia (à época, no finado DEM) vencia a disputa na Câmara para um terceiro mandato.
De perfil pragmático, Alcolumbre evitou levar adiante sanções ao Judiciário e ao Executivo. Em 2021, na reta final de seu mandato, arquivou todos os pedidos de impeachment contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e contra o então procurador-Geral da República, Augusto Aras, que estavam sob análise da presidência do Senado. Foram 36, ao todo.
Era um momento político diferente. À época, a direita ainda começava a se organizar contra o Supremo, que, posteriormente, com o incentivo do presidente Bolsonaro, virou o grande alvo da militância, em uma escalada que culminou nos ataques antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023.
Ainda em 2021, Alcolumbre conseguiu eleger seu sucessor, o senador Rodrigo Pacheco (MG), à época, seu correligionário no DEM e que, posteriormente, se filiou ao PSD, de Gilberto Kassab. Embora tenha deixado a presidência do Senado, Davi Alcolumbre conseguiu manter sua influência política nos bastidores.
Elegeu-se presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado em 2021 e conseguiu se reeleger em 2023. Durante esse período, cuidou da articulação em torno da distribuição das emendas parlamentares. O cientista político Leonardo Leite, da Fundação Getulio Vargas (FGV ), destaca que Alcolumbre é um político habilidoso nos bastidores. O especialista, que também é doutor em administração pública e governo pela FGV, afirma que, apesar de ser jovem, Davi Alcolumbre deve continuar a defender os interesses do Senado e do Congresso em eventuais embates com os demais Poderes.
“Ele é um político com muito apetite pelo fisiologismo e pelas trocas da governabilidade em Brasília. Ele foi Presidente do Senado antes, que não é uma tarefa fácil. (...) Exige muita habilidade e muito equilíbrio na condução de algumas questões que podem desembocar numa crise institucional entre os Poderes, como a gente tem visto ultimamente. Os presidentes da Câmara e do Senado muitas vezes têm que sair a campo para apagar alguns incêndios nesse desequilíbrio da relação entre os Poderes”, avaliou.
Escudo
Assim como deve ocorrer na Câmara, a tendência é que Alcolumbre acolha as demandas dos seus colegas parlamentares e defenda os interesses do Senado em caso de rusgas com o Judiciário, que seguirá a exigir transparência na destinação de recursos via emendas parlamentares.
“Alcolumbre tende a usar sua influência a favor dos parlamentares. Ele é um sujeito pragmático. E os parlamentares dependem das emendas como o oxigênio que respiram, porque isso irriga as suas bases eleitorais”, disse Leite.
Já com o Executivo, a relação é boa. Alcolumbre foi eleito com apoio do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que enviou seus ministros com mandato no Senado para votar no parlamentar.
Agora no União Brasil, um dos partidos mais poderosos no Congresso Nacional, o amapaense foi filiado a quatro partidos. Começou no PDT, em 2000; foi para o PFL, que depois se transformou no Democratas. Esse, por sua vez, virou o poderoso União Brasil, na união do DEM e do PSL.
CÂMARA | HUGO MOTTA (REPUBLICANOS-PB)
Aos 35 anos, o deputado paraibano Hugo Motta (Republicanos-PB) foi eleito o mais jovem presidente da história da Câmara dos Deputados. Conhecido por sua habilidade como articulador político, sua ascensão meteórica ao cargo é reflexo de um longo trabalho de bastidores e intensa articulação. Filho e neto de políticos, Motta iniciou sua carreira política aos 21 anos, quando foi eleito com 86.150 votos, em 2010. Hoje, é um dos principais articuladores do Centrão e uma das figuras mais influentes do Congresso Nacional.
Motta vem, ao longo dos anos, assumindo papéis estratégicos e consolidando sua presença dentro do Legislativo. Em seu quarto mandato como deputado federal, acumulou experiência e habilidades políticas, circulando entre nomes como Rodrigo Maia e Eduardo Cunha, este conhecido pelo PT, como o algoz da presidenta Dilma Rousseff, no processo de impeachment. Com ampla articulação e o suporte de diversos partidos, conseguiu chamar a atenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que inicialmente relutava em apoiá-lo por considerá-lo jovem, mas agora busca aproximação, especialmente diante da necessidade de alinhamento com a Câmara para a aprovação de projetos essenciais ao governo.
O parlamentar teve diversos embates com o Partido dos Trabalhadores. Além de votar a favor do impeachment de Dilma Rousseff, presidiu a CPI da Petrobras, que indiciou 70 pessoas, incluindo o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto. Outro ponto de pressão são as expectativas dentro do próprio bloco governista. Parte dos parlamentares defende que a Câmara assuma uma postura mais independente em relação ao governo, enquanto outra ala prega maior alinhamento com o Executivo.
O fato é que, ao assumir um dos cargos mais importantes do país, Hugo Motta terá de definir como conduzirá sua relação com os diferentes grupos políticos, já que a direita, com 99 deputados, espera contar com seu apoio, principalmente para derrubar vetos presidenciais, enquanto a esquerda, que tem 80 parlamentares, busca um diálogo mais próximo.
O novo presidente da Casa deve manter a mesma linha de articulação de Arthur Lira, apostando no pragmatismo político e na distribuição de cargos estratégicos para garantir apoio. Sua gestão pode representar a continuidade da força do Centrão, que tem dominado a agenda política da Casa nos últimos anos.
Hugo Motta Wanderley da Nóbrega, médico por formação, nasceu em João Pessoa, Paraíba, em 11 de setembro de 1989, mas construiu sua base eleitoral em Patos, no sertão paraibano. Vem de uma família tradicional na política e é filho do ex-deputado estadual e atualmente prefeito de Patos, Nabor Wanderley.
CPI DA PETROBRAS
Atualmente, é titular da Comissão de Finanças e Tributação. Em 2015, foi presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou denúncias de corrupção na Petrobras, o que contribuiu para o desgaste político que levou à queda de Dilma. Em 2023, foi relator da PEC dos Precatórios, que limitou o valor de despesas anuais com precatórios. É autor de 32 projetos de lei e de 18 propostas de emenda à Constituição.
Entre seus principais projetos apresentados na Câmara dos Deputados estão a PEC 55/2011, que foi transformada na Emenda Constitucional 82 e criou a carreira de agentes de trânsito no sistema de segurança pública, além de estabelecer que a segurança viária compreende educação, engenharia e fiscalização de trânsito.
Em 2018, votou a favor das principais pautas do governo de Michel Temer, como a PEC do Teto dos Gastos e a reforma trabalhista, defendendo a necessidade de controle fiscal. Também foi um dos articuladores da liberação do Auxílio Emergencial durante a pandemia, em 2020.