O globo, n 32.308, 20/01/2022. Política, p. 6

Após críticas da esquerda, Lula defende Alckmin.
Elisa Martins


Em meio a ataques de setores do próprio PT e de aliados como Guilherme Boulos, ex—presidente reforça possibilidade de ter ex-tucano como vice e diz que aliança depende só de definir “para qual partido ele vai'

Em meio a críticas de setores da esquerda e do próprio PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que não teria “nenhum problema” em compor uma chapa com o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (sem partido) nas eleições presidenciais deste ano. Em coletiva ontem, Lula defendeu Alckmin e disse que o ex-tucano já se definiu como oposição ao presidente Jair Bolsonaro e ao governador João Doria, pré-candidato pelo PSDB ao Palácio do Planalto.

Lula busca ampliar sua candidatura para o centro e com Alckmin, antigo adversário, em sua chapa busca um símbolo de moderação em meio a uma eleição polarizada. No PT, a resistência está concentrada em alas à esquerda do partido, que são minoritárias. Apesar disso, nomes expressivos como o deputado Rui Falcão (SP), ex-presidente nacional da sigla, e Luiz Marinho, que comanda a legenda em São Paulo, já criticaram publicamente a eventual aliança.

— Não terei nenhum problema em fazer chapa com o Alckmin para ganhar as eleições e governar esse país. Só não posso dizer ainda porque falta definir para qual partido ele vai, ver se o partido vai fazer aliança com o PT — disse Lula, que no início da entrevista afirmou ainda não ter definido a própria candidatura.

Alckmin foi convidado pelo PSB em dezembro a se filiar à sigla, mas ainda não respondeu. Ele também mantém conversas com o Solidariedade. A aliados, o ex-governador já afirmou que desistiu de concorrer novamente ao Palácio dos Bandeirantes e sinalizou que seu projeto para 2022 é o embarque na chapa do petista.

As conversas entre Lula e Alckmin começaram no ano passado, com troca de elogios públicos entre os dois e ganharam força com a saída do ex-governador do PSDB e um jantar, em dezembro, em que ele e Lula posaram para fotos.

— Espero que o Alckmin esteja junto, sendo vice ou não, porque me parece que ele já se definiu como oposição não só a Bolsonaro como ao “dorismo” aqui em São Paulo —disse Lula.

PONTOS DE TENSÃO

Os principais pontos de tensão com a esquerda quanto a uma aliança são medidas tomadas pelo governo paulista durante o comando de Alckmin, como uma reintegração de posse ocorrida há dez anos em São José dos Campos (SP) e que terminou com dezenas de sem-teto feridos e presos.

Ao ser perguntado sobre críticas feitas no passado pela esquerda a episódios e medidas tomadas durante as gestões de Alckmin no governo de São Paulo, Lula defendeu o ex-adversário.

— Sinto que você construiu uma quantidade de defeitos para poder falar do Alckmin. Só quem não tem falado do assunto é o Alckmin e eu. Todo mundo fala todo santo dia. Todo mundo dá palpite. Mas você não vê uma fala minha, uma fala do Alckmin. Ele saiu do PSDB e não se definiu para qual partido vai. Ele não tem partido hoje. E eu não defini minha candidatura. Então não pode ter candidato nem vice.

POSSÍVEIS DESTINOS DO EX-TUCANO

PSB

O partido convidou o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin para se filiar em 13 de dezembro e, segundo o presidente da sigla, Carlos Siqueira, ele ainda não deu uma resposta. O PSB negocia uma aliança nacional com o PT e a ideia é que Alckmin seja vice na chapa de Lula. A conversa entre os dois partidos, porém, empacou por causa de divergências eleitorais em alguns estados.

Solidariedade

Presidente do partido, Paulinho da Força ofereceu a sigla como plano B para Alckmin ser vice de Lula. Aliados do ex-governador já disseram que a chance de ele se filiar ao Solidariedade é pequena.

PSD

O presidente do PSD, Gilberto Kassab, contava com Alckmin para disputar o governo de São Paulo, mas o ex-tucano deixou claro que seu projeto é ser vice de Lula. O petista aposta na desistência do PSD em lançar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), para o Palácio do Planalto e tenta atrair o partido para uma aliança.

PV

O partido também abriu as portas para Alckmin quando ele deixou o PSDB.