Título: Deputado decide propor a CPI do Araguaia
Autor: Falcão, Márcio
Fonte: Jornal do Brasil, 15/05/2008, País, p. A7

Depois de ouvir ex-militares, ex-guerrilheiros e especialistas, na primeira audiência sobre o tema, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Pompeu de Mattos (PDT-RS) disse, ontem, que poderá propor a convocação de uma CPI para investigar o paradeiro dos restos mortais dos 59 guerrilheiros e mais de uma dezena de agricultores desaparecidos durante a Guerrilha do Araguaia, entre 1972 e 1975 na região do Bico do Papagaio.

O deputado afirmou que antes vai realizar outras audiências para atualizar informações, mas explicou que todos os relatos e documentos que chegam à comissão apontam para a figura do atual prefeito de Curionópolis (PA), Sebastião Curió Rodrigues de Moura, como o homem que detém todas as informações que podem esclarecer a real dimensão do conflito e o paradeiro dos militantes do PCdoB, uma busca que os familiares dos desaparecidos fazem há mais de 30 anos. Como Curió tem recusado todos os convites, o deputado acha que a saída seria a convocação através da CPI que colhe depoimentos de outros oficiais que participaram do conflito e têm informações concretas sobre o episódio.

¿ O propósito da Câmara é descobrir onde os corpos foram parar. Vamos avançar em busca da verdade, que só fará bem ao país ¿ afirmou Pompeu de Mattos.

Paradeiro dos corpos

Os testemunhos sobre mortes e locais onde os corpos foram parar, segundo o deputado, teriam força de prova. O conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Nélio Machado, autor do pedido de inquérito no Superior Tribunal Militar (STM) sobre a destruição de documentos militares, disse que a história recente demonstra que só uma CPI tem poderes para esclarecer o caso dos desaparecidos, seja através da convocação de oficiais que estiveram na linha de frente da repressão ou requisitando documentos em poder dos militares.

¿ Vou sugerir que a OAB peça a CPI à Câmara dos Deputados ¿ disse o advogado.

Ouvido ontem na comissão, o sex-tenente José Vargas Jiménez, conhecido pelo codinome de Chico Dólar na guerrilha que, na época subordinado a Curió, comandou um dos grupos de combate, afirmo que entre outubro de 1973 e fevereiro de 1974, entrou no Araguaia com a missão de exterminar o movimento armado organizado pelo PCdoB. Detalhou as técnicas de tortura e disse que o os documentos que não foram destruídos ficaram com o prefeito de Curionópolis. Em entrevista exclusiva ao Jornal do Brasil, há 20 dias, Curió admitiu que sabe o paradeiros dos desaparecidos, cujos locais revelará em livro que será lançado nos próximos meses.

Outros dois militares ouvidos ontem, os ex-soldados Raimundo Pereira Melo e Lourivan Rodrigues de Carvalho, afirmaram que é possível apontar locais onde originalmente foram enterrados alguns corpos de guerrilheiros executados. Raimundo busca há três anos informações sobre o conflito e afirmou que tem listado mais de uma dezena de guias que ajudaram os militares na ofensiva final contra a guerrilha. Carvalho confirmou declarações que havia dado ao JB: participou da cena em que foi morto o advogado e guerrilheiro Demerval da Silva Pereira, o João Araguaia, e ajudou a enterrá-lo, no pátio onde hoje funciona o Departamento Nacional de Infra-Estrutura em Transporte (Denit), em Marabá (PA).