Título: O desafio de Carlos Minc
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 15/05/2008, Opinião, p. A8

Confirmado como o novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc exibe todas as credenciais exigidas para ocupar o posto. Tem notável história em defesa do meio ambiente, pela qual já foi reconhecido internacionalmente, vivência parlamentar e experiência executiva ¿ depois de seis mandatos consecutivos na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, assumiu a Secretaria de Estado do Ambiente, a convite do governador Sérgio Cabral, onde vem realizando um excelente trabalho.

Acima de tudo, Minc sabe que estratégias modernas e sustentáveis fundamentam-se na virtuosa combinação entre projetos de desenvolvimento e respeito ao meio ambiente. É disto que o Brasil precisa, sobretudo porque está diante de uma enorme janela de oportunidade para dar o passo adiante e tornar-se um ator cada vez mais relevante no jogo das relações internacionais. Ao mesmo tempo em que exibe uma vasta e exuberante biodiversidade, o país precisa criar alicerces sólidos que permitam alcançar um patamar elevado de desenvolvimento ¿ e assim se mantenha. Tamanha tarefa exige completar um ciclo de criação de infra-estrutura capaz de garantir as condições necessárias a esse passo adiante.

O desafio posto às mãos de Carlos Minc não é pequeno. Em primeiro lugar, enfrentará a comparação inevitável com a personalidade de Marina Silva. Cada passo seu receberá atenção especial da pressão ambientalista. Compensará essa inquietação com a respeitabilidade adquirida ao longo de sua trajetória. Mas o novo ministro, convém sublinhar, vai suceder um símbolo. Ex-seringueira, Marina Silva alfabetizou-se no Mobral, fez supletivo, formou-se em História e, sempre em defesa da ecologia, fundou a CUT no Acre, ao lado de Chico Mendes. Tornou-se um exemplo de luta ambiental. Depois de chegar ao Senado, foi o primeiro nome anunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o ministério, num já longínquo 2002. Ao dar contornos especiais à indicação de alguém que gozava de grande prestígio no país e no exterior, Lula oferecia a senha para mostrar que o meio ambiente seria tratado com seriedade.

Ao beneplácito anterior, no entanto, sucedeu-se uma experiência pouco produtiva no governo. As dificuldades para administrar múltiplos interesses em jogo foram as evidências mais nítidas de que algo não ia bem. Faltou, talvez, a compreensão de que o país precisa preservar seus recursos naturais, mas sem deixar de explorá-los, e crescer economicamente. Projetos essenciais de geração de energia caminharam a passos lentos, turvados pelos caminhos da burocracia e da visão limitada de órgãos ambientais. Marina também se confrontou diretamente com o presidente, ao criticar abertamente os biocombustíveis ¿ hoje não só um tema freqüente nos discursos preparados no Planalto como uma alternativa limpa para a matriz energética brasileira e uma trilha essencial no caminho do desenvolvimento.

À lentidão exibida nos últimos anos na área ambiental ¿ nem sempre dependentes da vontade de ministros, ressalve-se ¿ Carlos Minc poderá substituir a rapidez de decisão que lhe caracteriza. O governador Sérgio Cabral costuma descrevê-lo como um bom "gestor ambiental" porque sempre diz o que pode ou não ser feito, mas sempre de forma rápida. É com esse atributo, por exemplo, que o Rio tem conseguido tornar realidade projetos de enorme impacto econômico e social, como o Complexo Petroquímico, o Comperj. Eis uma aposta importante para que os processos em andamento na esfera do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ganhem agilidade.

O novo ministro poderá, em suma, combinar boas intenções e pragmatismo, preocupação ambiental e astúcia política, desenvolvimento e sustentabilidade.