O Globo, n 32.308, 20/01/2022. Mundo, p. 18
África do Sul abre maior fábrica de vacinas anti-Covid do continente
CIDADE DO CABO — O bilionário americano da biotecnologia Patrick Soon-Shiong, que nasceu na África do Sul e tem origem chinesa, inaugurou uma fábrica que produzirá um bilhão de doses de vacinas contra a Covid-19 por ano na Cidade do Cabo por volta de 2025, o que a tornaria a maior fábrica do ramo na África e poderia ajudar o continente menos vacinado a enfrentar a pandemia.
Por causa do atraso em receber os imunizantes e da falta de infraestrutura para sua estocagem e aplicação, a África enfrenta dificuldades para vacinar sua população. Até hoje, apenas 10,1% das 1,2 bilhão de pessoas do continente estão totalmente vacinadas. Em comparação, quase 70% dos brasileiros, 62% dos americanos e 72% das pessoas no Reino Unido já receberam ao menos duas doses do imunizante.
A ImmunityBio, empresa de Soon-Shiong, está desenvolvendo uma vacina de RNA mensageiro com a expectativa de que seja usada como um reforço universal para doses anteriores e possa ajudar a acabar com a pandemia . A ideia é que ela seja um imunizante de segunda geração, visando atingir as proteínas do coronavírus menos sujeitas a mutações.
A nova empreitada sul-africana de Soon-Shiong surgiu após conversas com o presidente do país, Cyril Ramaphosa.
— Queremos fabricar na África, para a África e exportar para o mundo — disse Soon-Shiong, que nasceu na cidade sul-africana de Gqeberha, em entrevista coletiva nesta quarta-feira. — O presidente Ramaphosa disse "volte para casa, nós faremos isso acontecer" — acrescentou.
A capacidade planejada da fábrica é o dobro do que Soon-Shiong disse, em setembro, que poderia ser alcançada. A fábrica, que poderia empregar de 400 a 600 pessoas, depende em última instância da aprovação da vacina que suas empresas estão desenvolvendo. Estão sendo realizados testes em vários países, incluindo África do Sul, Botsuana e Austrália.
Em maio, Soon-Shiong — que tem uma fortuna líquida de US$ 9,9 bilhões (R$ 54,3 bilhões), de acordo com dados da agência Bloomberg — disse que daria US$ 195 milhões (R$ 1,07 bilhão) à África do Sul para ajudar na transferência de novas tecnologias para vacinas contra o coronavírus e outros tratamentos, incluindo para doenças como câncer, HIV e tuberculose.