Título: Brasil já está mais competitivo
Autor: Bozzo, Cláudia
Fonte: Jornal do Brasil, 15/05/2008, Economia, p. A17

Instituto suíço eleva posição do país na classificação mundial de eficiência empresarial.

São Paulo

As boas notícias na 20ª edição do Anuário de Competitividade Mundial da escola suíça de negócios IMD, segundo seu diretor, Stephane Garelli, "vêm do Brasil". Em entrevista por telefone de Lausanne, Suíça, à Gazeta Mercantil e ao Jornal do Brasil, o professor Stephane Garelli comentou que o bom desempenho do Brasil este ano, ao apresentar um ganho de 6 posições em relação a 2007 (da 49ª para 43ª posição, entre 55 países), mostra a boa performance do país, depois de três anos de quedas consecutivas.

¿ As finanças públicas estão em melhor situação, a inflação está sob controle, houve aumento das reservas e crescimento real do PIB per capita, mas o melhor resultado é mesmo o comportamento do mercado interno ¿ afirmou.

Na compar ação com os outros países do Brics a situação é ainda mais favorável: China e Índia perderam dois pontos e a Rússia quatro.

¿ Até pouco tempo, o Brasil era muito dependente de exportações e do relacionamento com os Estados Unidos. E há 10 anos, poderia ser afetado muito mais por uma crise como a que os EUA atravessam atualmente ¿ destacou o professor Garelli. ¿ O importante é a emergência no Brasil de uma nova classe média, como na China, ou Europa Central, ou Índia. Essa classe média torna a economia do país muito mais vigorosa. Não nos esqueçamos de que a prosperidade dos EUA e da Europa está ligada, há cem anos, ao desenvolvimento de uma forte classe média ¿ destacou.

É essa tendência de crescimento de uma nova classe média,em países como Brasil, Índia eChina, segundo o professor Garelli, que também explica a alta nos preços das commodities, pela mudança nos padrões de consumo embora inclua preo cupações com alta na inflação.

Desempenho brasileiro

Carlos Arruda, professor e pes- quisador da Fundação Dom Cabral, que participou da elaboração do relatório do IMD no Brasil, explica como se deu a conquista de seis posições pelo Brasil este ano.

¿ O estudo é baseado na análise de quatro grupos variados, que nós chamamos de fatores, ou seja: performance econômica, eficiência do governo, eficiência do setor empresarial e infra-estrutura, (ao todo, 323 variáveis) e o Brasil só perdeu pontos neste último. Mesmo num fator em que o Brasil tinha resultados ruins, como o relativo à eficiência de governo, a situação se manteve e continuamos no 51º lugar ¿ relatou Arruda

Um fator, segundo o professor, caracteriza o relatório desse ano, com impacto sobre essa questão da eficiência empresarial: o otimismo da comunidade empresarial.

¿ No Brasil a comunidade econômica se mostrou mais confiante, apesar da ameaça de recessão nos EUA. Isto foi um dos fatores a influenciar positivamente no item eficiência de governo ¿ explicou

Outros efeitos que seriam aparentemente ruins, como a desvalorização do dólar em relação ao real, não influíram no lado negativo.

¿ Quando analisamos a produtividade em dólar, o Brasil ganha muito porque em dólar a produtividade teve um crescimento interessante no último ano. O lado negativo é que o comércio internacional fica ameaçado. Mas há um outro componente nessa equação: o crescimento no preço das commodities e o aquecimento do comércio internacional, que acaba por compensar a baixa cotação da moeda americana ¿ diz o professor.

O país ganha com a exportação de grãos, de minério, perdendo na de produtos com maior valor agregado. A existência de um forte mercado interno aparece, segundo Carlos Arruda, no item economia doméstica, no qual o Brasil escalou 16 posições este ano. Ele inclui o consumo das famílias e estabilidade da moeda, tendência que já se manifestou no relatório do ano passado, quando o Brasil apresentou performance positiva, consolidando-se este ano.

¿ Quanto à eficiência empresarial, o Brasil está à frente da China e da Rússia no ranking do IMD, ocupando a 29ª colocação, com umpadrão de competitividade comparável à das maiores economias do mundo ¿ diz Arruda.