O Globo, n 32.309, 21/01/2022. Opinião, p. 2
Aprovação da CoronaVac tem tudo para acelerar vacinação das crianças
Foi providencial a aprovação ontem, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), da vacina CoronaVac para crianças e adolescentes. Embora o pedido feito há cerca de um mês pelo Instituto Butantan fosse para maiores de 3 anos, a agência autorizou o uso dos 6 aos 17 anos, sob o argumento de que faltavam informações sobre a efetividade da vacinação nos mais novos. A CoronaVac para crianças já é usada com êxito em países como China, Chile, Equador e Indonésia.
Espanta que, diante da necessidade premente de imunizar as crianças, não tenha havido maior pressão pela aprovação da CoronaVac. Pelo menos, desta vez também não houve a campanha descabida do movimento antivacina que tentou barrar a vacina infantil da Pfizer. Espera-se que continue assim. Naquela ocasião, o presidente Jair Bolsonaro ameaçou divulgar o nome dos técnicos da Anvisa que haviam autorizado a vacinação infantil. Diretores da agência receberam ofensas e ameaças anônimas pela decisão. Um absurdo.
A aprovação de uma segunda vacina para as crianças tem tudo para tirar o atraso na imunização dessa faixa etária. Para fazer coro com Bolsonaro, crítico da vacinação infantil, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, criou uma série de obstáculos que postergaram o início da aplicação das doses. Inventou uma absurda consulta pública para discutir a vacinação, algo que nunca houve no SUS. Depois, também mimetizando Bolsonaro, passou a defender receita médica para vacinar as crianças — bobagem que acabou derrubada pela própria consulta pública. Na maior parte dos estados, a vacinação infantil começou na última segunda-feira, um mês depois da autorização dada pela Anvisa.
A CoronaVac traz uma vantagem óbvia sobre a vacina da Pfizer: é fabricada aqui e já está pronta — a vacina é idêntica à aplicada nos adultos. Na quarta-feira, o diretor do Butantan, Dimas Covas, disse que o instituto reservou 15 milhões de doses para a vacinação infantil. No caso da Pfizer, a quantidade comprada pelo Ministério da Saúde ainda é insuficiente para todas as crianças de 5 a 11 anos. Neste mês o país deverá receber apenas 4,3 milhões de doses. Até o fim de março, serão 20 milhões, que cobrem apenas metade da demanda, já que a vacina é aplicada em duas doses.
Espera-se que o Ministério da Saúde não demore mais um mês para levar a CoronaVac às crianças. E que os ataques de Bolsonaro à vacina chinesa tenham ficado para trás. Na segunda-feira, Queiroga disse que compraria a CoronaVac caso fosse aprovada pela Anvisa. É hora de cumprir a promessa e incorporá-la logo ao Programa Nacional de Imunizações (PNI).
Pesquisas de opinião têm demonstrado alta adesão da população à vacinação infantil, apesar da campanha negacionista do governo. Pesquisa Datafolha divulgada no dia 17 mostra que 79% dos brasileiros apoiam a imunização de crianças. Com doses de vacina disponíveis e a disposição dos pais para levar os filhos aos postos, não há por que a campanha não deslanchar. É só o Ministério da Saúde não atrapalhar.