O Globo, n 32.309, 21/01/2022. Saúde, p. 15

VACINAÇÃO INFANTIL
Paula Ferreira


Anvisa aprova CoronaVac para crianças acima de 6 anos

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou ontem, por unanimidade, a autorização emergencial da vacina CoronaVac para crianças e adolescentes de 6 anos a 17 anos. O Instituto Butantan havia pedido aprovação a partir de 3 anos, mas a área técnica da Anvisa argumentou que os dados disponíveis ainda não permitem identificar benefício e segurança já a partir desta idade.

O voto de Meiruze Freitas, relatora do tema na agência, seguiu a área técnica. A diretora acatou ainda a recomendação de que a vacina não deve ser aplicada em crianças imunocomprometidas, também por não haver informações sobre ganho significativo para esses grupos.

Freitas foi acompanhada no voto pelos diretores Alex Campos, Romison Mota, Cristiane Jourdan e pelo diretor-presidente da agência, Antonio Barra Torres.

A partir desta aprovação, as vacinas já podem ser aplicadas em crianças com mais de seis anos por gestores estaduais e municipais.

Assim, duas horas depois da decisão, o governo de São Paulo aplicou a primeira dose do imunizante em alunos da Escola Estadual Brigadeiro Faria Lima, na Zona Oeste da capital. O primeiro a ser vacinado foi Caetano de Jesus Moreira, de 9 anos.

A Anvisa indica que as vacinas contra Covid-19 não podem ser aplicadas no mesmo dia de outros imunizantes do calendário vacinal das crianças, orientando um prazo de 14 dias para nova imunização.

EFICAZ E SEGURA

Além dos dados fornecidos pelo Butantan, um parecer conjunto de três sociedades médicas (Imunizações, Pediatria e Infectologia), levado em consideração pela área técnica da Anvisa, apoiou a aprovação para crianças acima de 6 anos.

Em seu voto, Freitas afirmou que dados colhidos em estudos feitos no Chile com cerca de 1,9 milhão de crianças nessa faixa etária mostram a efetividade da vacina

— Os resultados sugerem que a vacina CoronaVac foi significativamente efetiva contra hospitalizações e internações em UTIs e óbitos na população pediátrica. Tais resultados são importantes na luta para salvar vidas e reduzir efetivamente o impacto no sistema de saúde.

A agência considerou ainda os dados sobre efeitos adversos relacionados à vacina CoronaVac. Segundo a Anvisa, no Brasil, o imunizante não está relacionado a nenhum óbito. Além disso, efeitos adversos graves "são considerados raros ou raríssimos". No caso do público infantil, dados internacionais mostram que 86% dos eventos adversos registrados nesta faixa etária são do tipo não graves.

Para Meiruze Freitas, é importante reforçar a vacinação infantil em um momento no qual há aumento exponencial de casos devido à variante Ômicron.

A relatora disse ainda que a aprovação da CoronaVac para esse grupo é importante para viabilizar a vacinação de mais crianças já no primeiro trimestre, levando em conta a disponibilidade de doses. Até o momento, a vacina da Pfizer era o único imunizante aprovado para crianças e adolescentes na faixa etária a partir de 5 anos. O Ministério da Saúde deve receber 4,3 milhões de doses em janeiro, totalizando 20 milhões até março.

As doses pediátricas da Pfizer são diferentes daquelas aplicadas em adultos. Mas no caso da CoronaVac, a vacina para crianças é a mesma utilizada para adultos. A área técnica da Anvisa indica que o produto deve ser aplicado também em duas doses em um intervalo de duas a quatro semanas. A Anvisa levou em consideração estudos conduzidos no Chile, onde já há aplicação da CoronaVac em crianças, e pesquisas feitas sob coordenação da China em cinco países (Chile, Malásia, Filipinas, Turquia e África do Sul).

Em agosto a Anvisa havia rejeitado por unanimidade pedido do Instituto Butantan para autorizar o imunizante para essa faixa etária, por considerar que faltavam dados sobre o desempenho da vacina nesse grupo.

De acordo com o gerentegeral de Medicamentos, Gustavo Mendes, a aprovação da vacina para essa faixa etária ganha ainda mais importância em um contexto no qual não há medicamentos contra Covid-19 voltados para crianças.

— A análise sugere que há benefícios e segurança para utilização da vacina na população pediátrica. Para essa população específica, abaixo de 12 anos, não há tratamentos medicamentosos aprovados — explicou Mendes.

IMUNIZANTES PRONTOS

Nesta semana, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que compraria a CoronaVac para crianças e jovens de 3 a 17 anos desde que a vacina fosse aprovada pela Anvisa. Apesar da declaração, O GLOBO apurou que a pasta ainda não abriu nova negociação com o Butantan. Após a aprovação dos imunizantes, o Butantan divulgou que há 10 milhões de imunizantes prontos à disposição do governo.