O Globo, n 32.309, 21/01/2022. Política, p. 5

Bolsonaristas se atacam nas redes e na Justiça
Dimitrius Dantas e Jussara Soares


Eduardo Bolsonaro, Mário Frias e Fábio Faria trocam acusações com ex-ministros Ernesto Araújo e Abraham Weintraub

Em mais um capítulo dos atritos recentes que têm marcado a relação entre aliados do presidente Jair Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) atacou os irmãos Arthur e Abraham Weintraub, ex-assessor da Presidência e ex-ministro da Educação, respectivamente. Eduardo disse que engolia sapos para ver se ambos “se corrigiam”. Em outra frente, o ministro Fábio Faria (Comunicações) entrou com processo contra o ex-chanceler Ernesto Araújo por calúnia, injúria e difamação.

O estopim da briga pública ocorreu após os irmãos Weintraub compartilharem uma publicação curtida por Mário Frias, secretário de Cultura, e um dos aliados mais próximos de Eduardo. O post dizia que Abraham Weintraub seria preso “em breve” para ficar com a imagem de “herói e vítima”.

— Esta thread (sequência de tweets do secretário da Cultura Mario Frias) explica muito do que estava ocorrendo nos bastidores. Não se trata de dividir/unir a direita, mas separar o joio do trigo. Todo este tempo que nós engolíamos sapos na verdade era a chance para eles se corrigirem, mas nada foi feito. Então agora está aí, tudo às claras — escreveu Eduardo.

Nesta semana, durante uma “live”, Abraham Weintraub e Araújo criticaram a aliança de Bolsonaro com o Centrão. Conforme o GLOBO revelou, em conversas com aliados, Bolsonaro tem demonstrado irritação com Weintraub, que insiste em disputar o governo de São Paulo, mesmo com o presidente defendendo publicamente o nome do ministro Tarcísio Freitas (Infraestrutura). Bolsonaro tem comparado Weintraub a outros ministros que racharam com o governo, como Luiz Henrique Mandetta (Saúde), Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral) e Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo). Procurados, Weintraub e Araújo não responderam.

— Ela defende minha prisão ilegal, por defender a liberdade e o combate à corrupção, e apoiando o STF? Em outro post, ela menospreza outras prisões ilegais. Mário Frias, secretário do governo, curtiu? Espero que tenha sido engano — escreveu Weintraub.

Na sequência, Frias respondeu a Weintraub e a seu irmão, Arthur:

— Não entendi, Abraham e Arthur, por que estão chateados com uma curtida? Quantas vezes vocês deram aquela curtida marota em inúmeros perfis que chamam o presidente de frouxo, covarde e vendido para o sistema? Não gostaram da brincadeira de oposição sonsa? —afirmou.

Eduardo Bolsonaro também rebateu, fazendo referência ao fato de o governo ter indicado Weintraub ao Banco Mundial, onde esteve até recentemente:

— Se endossássemos prisões arbitrárias, Abraham jamais teria ido para os EUA junto com seu irmão.

O pano de fundo da cisão da ala ideológica do bolsonarismo é eleitoral. Na última semana, Weintraub voltou ao Brasil para articular sua campanha ao governo de São Paulo. Os planos do ministro da Educação, entretanto, vão de encontro aos do presidente, que decidiu lançar Tarcísio de Freitas para o cargo. O GLOBO apurou com pessoas que se encontraram com Weintraub que o ex-ministro está irritado com o presidente por ter sido escanteado de seu projeto eleitoral de 2022.

Nesta quarta-feira, Bolsonaro adicionou um novo ingrediente à briga, ao revelar um convite para a ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) ser candidata ao Senado em São Paulo. O anúncio desagradou a pré-candidatos como a deputada estadual Janaína Paschoal (PSL) e Paulo Skaf (MDB), que esperavam contar com o apoio do presidente.

Outros aliados do presidente levaram a briga para a Justiça. O ministro Fábio Faria entrou ontem com uma queixa-crime contra Araújo por calúnia, injúria e difamação. Ele insinuou que Faria teria beneficiado a China na negociação do 5G.

“Fábio Faria, seu processo contra mim só confirma sua sanha em perseguir conservadores. Não consegue formular resposta decente aos ataques diários da esquerda/oposição ao governo, mas é veloz em processar a mim, um conservador fiel ao projeto original do presidente” escreveu Araújo em suas redes sociais.