O Estado de S. Paulo, n. 47964, 11/02/2025. Política, p. A8
PF acha “Pix” de R$ 5 mil de empresário preso para secretária do Turismo
André Shalders
PF encontrou pagamento de R$ 5 mil a Cristiane Leal Sampaio, secretária Nacional de Políticas de Turismo.
Um relatório da Polícia Federal na Operação Emendário, que investiga suspeita de “venda” de emendas parlamentares por parte de deputados federais do PL, menciona um pagamento de R$ 5 mil do empresário Eduardo José Barros Costa, o Eduardo DP, à atual secretária nacional de Políticas de Turismo do Ministério do Turismo, Cristiane Leal Sampaio.
Eduardo DP é apontado na investigação como suposto sócio oculto da empreiteira Construnorte. Ele foi preso pela PF em novembro de 2023, sob a suspeita de operar um esquema de comércio de emendas parlamentares. Ao Estadão, Cristiane disse não se lembrar do pagamento e que, por essa razão, não comentaria.
Na investigação, a PF detalha a suposta operação de venda de emendas parlamentares por parte de três deputados federais do PL: Josimar Maranhãozinho (MA), Pastor Gil (MA) e Bosco Costa (SE), como antecipou o Estadão em outubro do ano passado.
UM QUARTO. Os recursos eram destinados à área da Saúde no município de São José de Ribamar, na região metropolitana de São Luís, capital maranhense. Segundo a PF, a quadrilha da qual os deputados faziam parte cobrava a devolução de um quarto (25%) dos recursos. Os três deputados não foram localizados pela reportagem.
A apuração da PF gira em torno de três emendas parlamentares destinadas a São José de Ribamar que somam R$ 6,7 milhões. Deste total, ao menos R$ 1,6 milhão teria sido cobrado pela quadrilha como propina. O então prefeito, Eudes Sampaio, procurou a polícia depois de se recusar a pagar – a quadrilha passou a fazer ameaças contra ele e sua família.
O caso foi enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) em junho de 2021 e tramita sob a relatoria do ministro Cristiano Zanin. Na semana passada, o ministro liberou o processo para julgamento na Primeira Turma do STF.
No relatório da PF, a atual secretária do Ministério do Turismo aparece prestando informações a um ajudante de Josimar Maranhãozinho, João Batista de Magalhães, sobre a liberação de dinheiro em três convênios celebrados entre a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e os municípios maranhenses de Bacabeira e Santa Rita – no último caso, são dois convênios.
PAVIMENTAÇÃO. Todos os três convênios têm por objeto a pavimentação de vias e foram executados pela mesma empresa, a Construtora Guimarães, de Presidente Dutra (MA). A empreiteira está registrada no nome de Ivanuto Soares Guimarães, que foi preso pela PF em 2009 numa investigação sobre tráfico de drogas, a Operação Amálgama.
As três operações em Santa Rita e Bacabeira foram custeadas por uma mesma “emenda de relator-geral”, a de número 1480. Por esse motivo, não é possível saber qual parlamentar enviou os recursos para esses convênios. As emendas de relator estão na base do chamado orçamento secreto, revelado pelo Estadão em 2021. O esquema consistia no uso do nome do relator-geral do Orçamento para ocultar os verdadeiros padrinhos das indicações de verbas públicas.
No relatório, a PF informa que João Batista de Magalhães, o preposto de Maranhãozinho, negociava com Cristiane a captação de emendas. “Magalhães conversa via WhatsApp com Cris/Segov (Cristiane Leal Sampaio) e Fernando (Fernando Moreira Silva) sobre assuntos que dizem respeito a valores de emendas parlamentares destinadas a determinados municípios. Essas duas pessoas se valem dos cargos que possuem para atualizar Magalhães sobre o andamento de pagamento de convênios com municípios”, diz um trecho do relatório.
O nome do contato “Cris/Segov” é uma referência a um cargo anterior de Cristiane, na antiga Secretaria de Governo durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). De acordo com o currículo da secretária, disponível no site do Ministério do Turismo, ela atuou na pasta de outubro de 2019 a fevereiro de 2020, na gestão do então ministro Luiz Eduardo Ramos.
Na época das mensagens registradas pela PF, Cristiane já estava de volta ao Poder Legislativo, trabalhando como assessora do então líder do governo no Congresso, o senador Eduardo Gomes (PL-TO). No começo deste mês, Gomes foi eleito vice-presidente do Senado, na gestão de Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Gomes é mencionado várias vezes no relatório da PF – a corporação diz que um eventual envolvimento dele na venda de emendas precisará ser investigado em um novo inquérito.
A existência das investigações sobre Maranhãozinho, Pastor Gil e Bosco Costa foi revelada pelo Estadão em outubro do ano passado. O inquérito da PF veio a público em reportagem da TV Globo na última sexta-feira. O Estadão obteve cópia do arquivo de 294 páginas. Segundo as investigações, Maranhãozinho agia como líder “da estrutura criminosa”.
Cristiane Leal disse não ter “conhecimento do que se trata”. “Nunca fui notificada ou instada a prestar esclarecimentos. Também não me recordo de qualquer relação com o empresário que menciona.” •
Defesa
Secretária do Turismo diz não se recordar de qualquer relação com o empresário investigado