O Estado de S. Paulo, n. 47964, 11/02/2025. Metrópole, p. A12

A 9 meses da COP-30, só 10 países apresentaram suas metas climáticas

 

 

A Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-30) será realizada em novembro, em Belém, para discutir estratégias para frear o aquecimento global – cujos efeitos têm ficado mais evidentes, diante dos estragos das chuvas extremas, ondas de calor e escalada de incêndios. A nove meses dessa mais importante cúpula ambiental, porém, apenas dez países – incluindo o Brasil – apresentaram as novas metas de cortes de emissões de gases de efeito estufa, segundo o grupo científico Climate Tracker.

A atualização desses objetivos (chamados de NDCs) era prevista para os 197 signatários do Acordo de Paris, pacto climático assinado há dez anos. A ideia é ajustar os esforços para reduzir a poluição atmosférica, tendo no horizonte o período até 2035.

O prazo oficial para renovar esse compromisso terminou ontem, mas o secretário da ONU para o Clima, Simon Stiell, já admitiu estender o cronograma. Em visita ao Brasil, anteriormente, ele disse esperar que as nações façam essa atualização, no máximo, até setembro.

Até agora, Brasil, Estados Unidos, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido, Suíça, Nova Zelândia, Uruguai, Equador, Santa Lúcia e Andorra divulgaram seus novos NDCs. O ajuste das metas – que são compromissos voluntários – é crucial para o êxito da COP na Amazônia, já ameaçada pela saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, anunciada pelo presidente americano Donald Trump ao retornar à Casa Branca em janeiro.

Nas últimas edições, as negociações na conferência têm fracassado por falta de consenso entre nações ricas e os demais países, sobretudo em relação à necessidade de financiamento para adaptação climática. O assunto não avançou na COP-29, como esperava o Brasil.

O que dizem especialistas Para cientistas, só a meta do Reino Unido está em linha com a contenção do aquecimento global

DETALHAMENTO. Em novembro, o Brasil foi um dos primeiros países a apresentarem a nova meta: reduzir as emissões, até 2035, entre 59% e 67% na comparação com os níveis de 2005. O governo defendeu o número e prometeu detalhar as propostas para cada setor, mas especialistas dizem que isso está abaixo da ambição necessária. A principal fonte brasileira de gases de efeito estufa é o desmate da Amazônia.

Já o Reino Unido prometeu cortar até 81% das emissões até 2035, na comparação com a poluição registrada em 1990. É considerado pelo Climate Tracker como o único país, até agora, que apresentou um compromisso suficiente para a meta de limitar o aquecimento do planeta a 1,5ºC até o fim do século.

SOB ANÁLISE. Nos Estados Unidos, um mês antes de deixar a Casa Branca, o presidente Joe Biden anunciou a meta de cortar entre 61% e 66% das emissões até 2035. Os americanos aparecem nos rankings como a segunda nação mais poluidora. Mas Washington vai deixar o Acordo de Paris por ordem de Trump – e não se sabe o que será das NDCs.

Enquanto isso, os Emirados Árabes, anfitriões da COP de 2023, prometeram corte em 44% das emissões em 2035, na comparação com 2019. Para os pesquisadores do Climate Action Tracker, a falta de detalhamento sobre os caminhos para atingir a meta afeta a credibilidade da proposta.

Algo parecido ocorre com a Suíça, que prevê reduzir em pelo menos 65% o lançamento de gases de efeito estufa ante os níveis de 1990. Os cientistas do Climate Tracker, porém, apontam falta de clareza entre as projeções de corte de emissões e as de compensação via créditos de carbono. Em relação à Nova Zelândia, que promete cortes na faixa entre 51% e 55% nas emissões, os especialistas veem objetivo insuficiente.

PAPEL DO BRASIL. As outras nações que renovaram suas metas climáticas têm pouca participação no ranking global de emissões de gases de efeito estufa. Entre os dez maiores emissores de CO2 , há uma expectativa ainda sobre quais serão as metas de China, Rússia e Índia. E sobre qual pode ser o papel do Brasil, dentro dos chamados Brics, para incentivar metas mais ousadas. •