O Globo, n 32.310, 22/01/2022. Política, p. 9
Sem tração, pré-candidatura de Pacheco esfria
Julia Linder e Camila Zarur
Lançado pelo PSD para concorrer ao Planalto, senador recuou da ideia de aproveitar o recesso para percorrer o país e articular apoio em seu nome, e aliados já consideram que ele desistiu da disputa. Reeleição no comando do Congresso em 2023 é foco
A pré-candidatura à presidência de Rodrigo Pacheco (MG) pelo PSD esfriou antes mesmo de começar. Aliados do presidente do Senado já consideram que ele desistiu de reivindicar o cargo devido ao cenário polarizado entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que aparecem à frente nas pesquisas eleitorais. De acordo com as pesquisas, o senador consegue atingir no máximo 1% das intenções de voto.
Na avaliação dos membros do PSD, como Pacheco é desconhecido por grande parte da população, dez meses depois das eleições ele já deveria estar se deslocando pelo país para pelo menos tentar mudar essa realidade. A ideia inicial era que ele aproveitasse o recesso parlamentar para viajar para diferentes estados, o que não ocorreu. O senador optou por tirar alguns dias de folga, permaneceu preso em Minas Gerais nas primeiras semanas de janeiro e evitou aparições públicas, agindo de forma inversa aos demais candidatos à presidência. Nas redes sociais, o Presidente do Senado continua com o conteúdo limitado a quem não o segue.
Um correligionário de Pacheco disse, em caráter reservado, que tudo indica que a candidatura não será lançada porque o Presidente do Senado “não se mexeu, não deu um passo” para viabilizar. Outro membro do PSD ouvido pela reportagem destacou que a sigla nem sequer foi mobilizada para apoiar o Presidente do Senado até agora, o que seria mais uma indicação.
KASSAB BUSCA SUBSTITUTO
O presidente do partido, Gilberto Kassab, já denunciou pessoas próximas que buscam um substituto para Pacheco . O objetivo é ter um nome para marcar posição, mesmo sem chances reais de ganhar. Os tratamentos foram interrompidos na semana passada depois que Kassab foi hospitalizado para monitorar os efeitos da Covid-19 após contrair a doença.
Segundo pessoas próximas a Pacheco, ele quer manter o foco em atuar como Presidente do Senado e, eventualmente, buscar a reeleição para o cargo em 2023, o que representaria um caminho mais seguro. O parlamentar também busca colocar uma agenda positiva nas votações do plenário. Uma das prioridades para ele é a reforma tributária, embora parlamentares de diferentes matizes apostem que projetos complexos como esse não devem prosperar em ano eleitoral.
1% nas pesquisas de porcentagem de intenção de voto foi o máximo alcançado por Rodrigo Pacheco
As ressalvas de Pacheco estão explícitas desde o ano passado, durante a convenção do PSD: enquanto Kassab insistia em lançar sua pré-candidatura à presidência, o senador disse que ainda precisava pensar.
Pacheco também não descarta concorrer ao Governo de Minas, mas a possibilidade é vista como improvável por questões políticas locais. O PSD é pré-candidato ao Palácio da Liberdade, do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil. O prefeito polariza nas pesquisas com o atual governador de Minas Gerais, Romeu Zema (novo), com quem Pacheco mantém uma boa relação.
A candidatura de Zema é apoiada pelo DEM, antigo Partido do Senado e que hoje é presidida pelo deputado federal Bilac Pinto, que também é próximo de Pacheco. Uma possível candidatura do Presidente do Senado no estado pode gerar atritos tanto com correligionários do PSD quanto com ex-aliados.
Pacheco, que muitas vezes protagonizou embates com o governo federal por ser visto como um potencial adversário de Bolsonaro, agora dá sinais de reaproximação. A principal delas é a intenção do Palácio do Planalto em eleger Alexandre da Silveira (PSD-MG) como líder do governo na Câmara. Silveira é suplente de Antonio Anastasia, que em breve assumirá uma cadeira no Tribunal de Contas da União (TCU), e muito próximo de Pacheco, que desde abril do ano passado atuou pessoalmente para que ele assumisse a vaga de senador. Além disso, o senador nomeou Silveira como diretor jurídico do Senado justamente para que estivessem mais próximos, o que também resultou em uma aproximação com o platô no período.
PERFIL CONCILIATÓRIO
Embora a desistência da candidatura de Pacheco seja tida como certa, continua a não admitir que desistiu do convite do PSD. Pessoas próximas dizem que ele quer esgotar todas as possibilidades, inclusive tentar ser deputado de Lula ou Bolsonaro. Segundo aliados, o senador poderia compor chapa com os dois, embora sejam políticos antagônicos, por terem perfil conciliador — citam, por exemplo, a eleição de Pacheco à Presidência do Senado, que teve o apoio de petistas a bolsonaristas.
Aqueles que defendem dentro do PSD que o senador se alie a Lula dizem que o fato de Pacheco ser de Minas, o segundo maior colégio eleitoral do país, e próximo a empresários poderia atrair eleitores do centro para o ex-presidente.