Título: Eleitores nem sequer lembram em quem votaram
Autor: Israel Tabak
Fonte: Jornal do Brasil, 23/01/2005, País, p. A2

Pesquisa feita no Rio mostra que população não confia nos políticos

A imagem do Poder Legislativo junto à população nunca foi das melhores. A novidade é que uma pesquisa feita com eleitores do município do Rio de Janeiro quantifica pela primeira vez esse descrédito. O levantamento, do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS), mostra que não é a atividade parlamentar, como princípio, que gera desconfiança, mas a própria atuação dos políticos.

Assim, 78,4% dos entrevistados acham a função parlamentar ''importante'' ou ''muito importante'', mas, ao mesmo tempo, 83% afirmam que os parlamentares ''trabalham pouco e ganham muito''.

Só 14% dos ouvidos consideram que o nível de qualificação dos parlamentares é ''alto'' ou ''muito alto''. Para 40,3%, o nível é ''baixo'', ou ''muito baixo'', enquanto 37,2% consideram o nível ''médio''.

- Em suma, pode-se dizer que o eleitor carioca considera importante a função parlamentar, mas acha que os políticos não estão à altura dessas mesmas funções, seja porque os considera pouco qualificados ou ineficientes - explica o cientista político Geraldo Tadeu, diretor do IBPS e professor da Uerj.

A pesquisa foi realizada entre os dias 11 e 13 deste mês com 506 eleitores, distribuídos em todas as regiões da cidade. A margem de erro é de 4%.

Um dos dados preocupantes da pesquisa é que a grande maioria dos entrevistados (62,8%) não acompanha as atividades do Poder Legislativo, além de mostrar desconhecimento sobre a função parlamentar e o nome de políticos.

Quase 60% desconhecem completamente qual a função de um senador, enquanto 53,6% são incapazes de citar o nome de um único político eleito para o Senado. Entre os citados, Sergio Cabral (PMDB) aparece com 20,2%, seguido por Marcelo Crivella (PL), com 7,3%.

Mais da metade (53.6%) não sabe qual a função de um deputado (federal ou estadual) e 64,8% não souberam citar o nome de pelo menos um deputado federal eleito. A ignorância continua no mesmo nível quando os pesquisadores pedem para se citar o nome de um deputado estadual: 65,8% responderam que não saberiam citar um único nome.

Embora a eleição para a Câmara Municipal seja recente, mais da metade dos pesquisados - 50,6% - não soube citar o nome de algum eleito e quase a metade (49%) não sabe qual a função de um vereador.

Ao esmiuçar os detalhes da pesquisa, Geraldo Tadeu comenta que há uma relação direta entre o grau de escolaridade dos candidatos e sua opinião sobre a qualificação dos parlamentares:

- Os mais escolarizados consideram proporcionalmente os parlamentares muito menos qualificados (60,3% dos que têm curso superior) enquanto os que tem apenas o primeiro grau consideram os políticos eleitos muito qualificados (63,3% deles acham que os parlamentares têm um ''alto'' ou ''muito alto'' nível de qualificação) - comenta o professor da Uerj.

Também está em função da escolaridade e do nível de renda, o maior ou menor interesse em acompanhar a atividade do Poder Legislativo. Quanto maior a escolaridade, maior a atenção com a agenda de vereadores, deputados e senadores.

- No quesito renda, vê-se que quem mais acompanha essa agenda é a classe média, pois a maior concentração de interessados (40,4%) encontra-se nos níveis médios de renda - complementa Geraldo Tadeu.

Um dado curioso da pesquisa, ressaltado pelo professor da Uerj, é que as mulheres se mostram mais críticas que os homens ao apreciar o trabalho dos parlamentares, mostrando-se mais severas no julgamento de que os parlamentares ''trabalham pouco e ganham muito'', uma das opções apresentadas pelos pesquisadores.