O Globo, n 32.310, 22/01/2022. Economia, p. 19

Calorão faz disparar venda de ventilador e ar-condicionado
Julia Noia e Raphaela Ribas


Com altas temperaturas de verão e trabalhando em casa, varejistas relatam aumento de 60% a 110% na demanda

As altas temperaturas no verão provocaram uma correria para lojas e sites em busca de soluções para amenizar o calor. Varejistas de diferentes perfis registram altas de 60% a 110% nas vendas de condicionadores de ar e ventiladores. Somente nos primeiros 18 dias de janeiro, o e-commerce como um todo teve um aumento de 10% no faturamento com esses itens, segundo levantamento da Neotrust, especializada em rastreamento de vendas online, feita a pedido do globo. 

Mas se o ambiente resfriado a 23 graus ainda é um sonho distante do orçamento, para muitos, o jeito é recorrer ao ventilador, em busca de algum refresco. O comércio de ventiladores registrou um aumento de 19% no período, segundo a Neotrust, sustentado pelo crescimento do home office em razão da Ômicron.

 — As pessoas começaram a trabalhar em casa e, muitas delas, tiveram a necessidade de ter um ambiente menos quente - diz Paulina Gonçalves, chefe de inteligência da Neotrust. 

Muitas vezes, há um aumento no número de condicionadores de ar. Nas primeiras semanas do ano, o comércio eletrônico faturou R$ 45,7 milhões com venda de ventiladores e R$293,9 milhões com ar condicionado, com valorização do tíquete médio de 6,7% e 11%, respectivamente. Na Americanas.com, o crescimento foi de 60% de novembro a janeiro na venda de condicionadores de ar e de 86% na venda de ventiladores, na comparação com o mesmo período de 2021. 

Mesmo com os gastos extras do início do ano, a temperatura acima de 40 graus faz com que o orçamento se torne mais flexível por meio de compra por impulso ou necessidade.

- Quando as pessoas passam uma ou duas noites sofrendo com o calor, querem resolvê-lo logo. As vendas subiram mais de 35% nos últimos dias e acreditamos que vão continuar crescendo ainda mais — afirma João Appolinário, presidente e fundador da Polishop, que tem visto um aumento nas buscas no site e nas lojas físicas. 

A região que mais se destaca para a empresa é a Sudeste, onde se concentra o maior poder aquisitivo. Mas o Sul, que vive uma onda de calor anormal, tem sido surpreendente. 

Na Lojas Cem, que possui 293 estabelecimentos físicos, houve um salto de 110% nos itens de refrigeração, principalmente ventiladores de piso.

- As vendas de janeiro estão melhores que as de janeiro do ano passado, muito parecidas com 2019. Mas poderia ser melhor. Acredito que essas vendas de ventilação vão ajudar a vender mais. 

Mantendo a temperatura, isso vai refletir nas vendas - diz o superintendente das Lojas Cem, José Domingos Alves. 

A demanda nas lojas já se reflete nas fábricas. 

Na LG, que detém 24,2% do mercado de ar condicionados no Brasil, a demanda nas últimas duas semanas foi considerável. A região que apresentou a maior demanda também foi a Sul. Segundo Marcel Souza, gerente executivo de linha branca da LG, o aumento foi de 20% entre a última semana de dezembro e a primeira de janeiro.

PREOCUPAÇÕES COM A CONTA DE ELETRICIDADE

O empresário Fabiano Oliveira está entre os que procuram um refresco. Morador da Zona Oeste do Rio de Janeiro, ele comprou dois aparelhos de ar condicionado nos primeiros dias de janeiro, para o quarto e o escritório. Ele celebra o conforto, mas se preocupa com o consumo de energia.

 —Temos que pensar na qualidade de vida, não só na tarifa. E procuramos combinar uma etiqueta com o consumo A, e a funcionalidade da conta-aparelho - conta, em referência ao indicador de eficiência energética.

A professora Kelly Dias, moradora de Praia Grande, no litoral paulista, ainda não comprou seu aparelho, mas já começou a pesquisar em lojas físicas e online. 

— Preciso de ar condicionado por causa do calor, principalmente no local de trabalho. Aqui no escritório, como faço gravação, as portas e janelas estão sempre fechadas — diz a professora, que só pretende comprar o aparelho agora por "necessidade real". 

Para Marcelo Allain, sócio da consultoria de varejo Gouvêa Analytics, as vendas sazonais por impulso está atrasada. Não aconteceram na Black Friday, nem em dezembro, como de costume. E não deve se sustentar por muito tempo, pois a alta inflação tem forte impacto no orçamento familiar, e no início do ano ainda soma as contas habituais do período, como IPTU, IPVA e material escolar.

"Quando as pessoas passam uma ou duas noites sofrendo com o calor, elas querem resolvê-lo imediatamente"

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João Appolinário President of Polishop

"As vendas de janeiro são melhores que as de janeiro de 2021, muito semelhantes às de 2019"

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José Domingos Alves Superintendent of Lojas Cem