O Estado de S. Paulo, n. 47965, 12/02/2025. Economia & Negócios, p. B2
Capacidade de negociar do País definirá impacto econômico das tarifas
Luiz Guilherme Gerbelli
O impacto para a economia brasileira das tarifas de importação impostas pelos Estados Unidos ao aço e ao alumínio ainda é difícil de ser mensurado. Economistas consultados pelo Estadão avaliam que os desdobramentos econômicos da medida anunciada pelo presidente Donald Trump vão depender da capacidade de negociação do governo brasileiro. O Brasil é o segundo maior fornecedor de aço para os EUA.
Por ora, a maior dificuldade para traçar um cenário se dá porque não se sabe se os americanos estão dispostos a negociar eventuais concessões. Se algum país conseguir reverter total ou parcialmente a medida, certamente ganhará vantagem em relação a concorrentes.
O governo brasileiro tem alguns argumentos para tentar amenizar o impacto: 90% do aço que o País exporta para os EUA, por exemplo, é do tipo semiacabado, um produto intermediário, que, se ficar mais caro, pode representar mais inflação para o consumidor americano. O Brasil também é deficitário nas relações comerciais com os EUA – ou seja, importa mais do que vende aos americanos.
“O Brasil precisa ser muito estratégico na negociação por exportar um produto intermediário e pelo fato de ter um déficit com os EUA”, diz Alessandra Ribeiro, economista e sócia da consultoria Tendências. “São argumentos que podem suavizar esse quadro.”
No seu primeiro mandato, em 2018, Trump chegou a impor tarifas de importação para o alumínio e aço. O Brasil, no entanto,
“A melhor postura para o Brasil é reforçar o diálogo com as autoridades públicas dos Estados Unidos. O diálogo é a estratégia mais correta para o governo (brasileiro)”
Lucas Ferraz
Coordenador do Centro de Estudos de Negócios Globais da FGV EESP
conseguiu negociar e um sistema de cotas passou a vigorar. A cota brasileira é de cerca de 4,2 milhões de toneladas ao ano – 3,5 milhões de toneladas de placas e 680 mil de aços acabados.
DIÁLOGO. “A melhor postura para o Brasil é reforçar o diálogo com as autoridades públicas dos EUA”, diz Lucas Ferraz, coordenador do Centro de Estudos de Negócios Globais da FGV EESP. “O diálogo é a estratégia mais correta para o governo.”
Numa conjuntura mais difícil, em que o aço e o alumínio do Brasil seriam taxados em 25%, mas algum outro país consiga avançar na negociação, a leitura é de que os produtos brasileiros perderiam espaço nos EUA. E pior: a indústria local lidaria com um quadro interno adverso – a expectativa é de que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro desacelere este ano diante da alta de juros e do menor impulso fiscal.
“Com uma tarifa ( de importação) dessa magnitude, certamente haveria uma sobra de produção aqui dentro”, diz Sergio Vale, economista chefe da MB Associados.
Num cenário de desvantagem, a indústria do aço e do alumínio veria uma queda nas exportações, o que traria impactos à produção industrial e, consequentemente, à atividade econômica e ao emprego. Em 2024, 61% do aço exportado pelo Brasil foi para os EUA. “Algum impacto essa medida deve ter, mas é difícil dimensionar”, diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). •