O Globo, n 32.310, 22/01/2022. Política, p. 4
QUARTA TENTATIVA
Camila Zarur e André de Souza
Em sua quarta tentativa de chegar ao Palácio do Planalto, Ciro Gomes foi oficialmente lançado ontem pelo PDT como pré-candidato à presidência da República. Fiel ao seu estilo, agora repaginado como "rebelde" pelo marqueteiro João Santana, o pedetista distribuiu ataques contra seus adversários na disputa eleitoral, como o ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro, que lideram as pesquisas. Mas mirou principalmente o ex-juiz Sergio Moro (Podemos), numericamente à frente dele nas pesquisas de intenção de voto, dizendo que "estava lambendo Bolsonaro".
A presidência do PDT não fechou, até o momento, aliança com nenhum outro partido. A militância pedetista se entusiasmou com a possibilidade da ex-ministra Marina Silva (Rede) ser deputada na chapa mas a composição enfrenta uma série de obstáculos. Internamente, Ciro enfrenta pressão de deputados federais para desistir, diante do baixo desempenho nas pesquisas. O lançamento de sua pré-candidatura tão cedo seria um lembrete de que os planos estão mantidos.
ACENOS AO CENTRO
Em seu discurso, Ciro disse ser favorável à revisão da reforma trabalhista, do teto de gastos e da política de preços da Petrobras. Por outro lado, defendeu o equilíbrio fiscal para ajudar no crescimento, mas disse que isso é possível sem sacrificar os mais pobres e sem estagnar o país. Ele também disse que vai propor uma reforma tributária e a tributação das grandes fortunas.
Segundo o presidente do PDT, Carlos Lupi, a pré-candidatura foi aprovada por unanimidade na convenção partidária realizada ontem. A última vez que foi candidato, em 2018, ficou em terceiro lugar com 12,47% dos votos. Ciro se apresenta como uma alternativa de esquerda, mas tenta capturar parte do eleitorado de centro, especialmente aqueles que rejeitam Lula e Bolsonaro.
Segundo o Ipec, em pesquisa divulgada em 14 de dezembro, ele teve 5% de intenção de voto em dois cenários possíveis, enquanto Lula variou de 48% a 49%, Bolsonaro de 21% a 22% e Moro teve entre 6% e 8%. Já a pesquisa do Datafolha publicada em 16 de dezembro mostrou a Cyrus com 7% em dois cenários diferentes. Lula passou de 47% para 48%, Bolsonaro variou entre 21% e 22% e Moro apareceu com 9%.
No lançamento de sua pré-candidatura, Ciro criticou a insistência dos governos que, segundo ele, desde a redemocratização insistem no mesmo modelo econômico e na mesma política poiada no "conchavo" e na corrupção. Embora as críticas tenham sido generalizadas, os maiores alvos têm sido Bolsonaro e seu antecessor, Michel Temer. Ele chamou a política de enfrentamento da pandemia no Brasil, por exemplo, de "genocida".
O pedetista também não poupou ataques a Moro, que concorre com ele na tentativa de quebrar a polarização entre Lula e Bolsonaro. Ciro afirmou que Moro ajudou na eleição de Bolsonaro da eleição ao colocar seu principal adversário da disputa em 2018, Lula, na cadeia. O presidente do PDT disse ainda que o ex-juiz, ao não respeitar o processo penal, facilitou o retorno do PT à cena política. Ainda segundo Ciro, Moro não tem preparo para ser presidente e é um "candidato a se derreter em contradições, mentiras e despreparos".
— Foi lambe-botas de Bolsonaro — disse Ciro, que afirmou ainda: - há um inimigo da República, não um adversário político, tentando subtrair a liberdade do povo brasileiro.
Em entrevista coletiva após o evento, ele criticou Lula, de quem foi ministro.
— Bolsonaro existiria se não fosse a contradição econômica, social e moral de Lula? Por que 70% votaram em Bolsonaro em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais? Tudo virou fascista? Não. Era Lula. Para ele, o Brasil é um objeto. Se ele não estiver nas eleições, nada é bom para o Brasil. Não aguento mais apoiar as incoerências do Lula — disse Ciro, concluindo — capricho do lulo-petismo, nunca mais.
Questionado sobre o governador de São Paulo, João Doria, pré-candidato do PSDB a presidente, Ciro lembrou que já era aliado do atual presidente:
— Doria é uma viúva do Bolsonaro.