Título: Tucanos e democratas vivem período difícil
Autor: Falcão, Márcio
Fonte: Jornal do Brasil, 18/05/2008, País, p. A4

Velhos aliados divergem sobre como fazer oposição.

Brasília

A parceria de tucanos e democratas na oposição ao governo Lula está cada vez mais arranhada. O estopim de discussões internas nos dois partidos é a estratégia de atuação no Congresso para enfrentar a cúpula do governo. Nos últimos embates, parlamentares do DEM se esforçam para emplacar uma postura mais agressiva na linha de tiro dos oposicionistas. O PSDB, por outro lado, aposta na sutileza. A falta de sintonia, no entanto, deixa entre líderes dos dois partidos a suspeita de que a aliança pode não resistir até a sucessão presidencial de 2010.

A avaliação da cúpula tucana, depois de investir em artilharia pesada, é que para atingir o Palácio do Planalto é preciso buscar uma pauta impositiva de matérias de desinteresse dos governistas. A proposta teria sido costurada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e discutida com velhos caciques do DEM, como presidente de honra da legenda, Jorge Bornhausen.

A tentativa de afinar o discurso na prática não tem surtido efeito. Um dos exemplos é a negociação para a votação na Câmara do projeto que acaba com o fator previdenciário como cálculo das aposentadorias concedidas pelo INSS. DEM não aceita nem discutir o teor da matéria, enquanto do PSDB diz que é preciso chegar a um entendimento para a manutenção da responsabilidade fiscal.

CPI dos Cartões

Outro palco de intensos atritos da oposição é a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) dos Cartões. Democratas acusam os tucanos de certa paralisia nas investigações para evitar a descoberta de que servidores do ex-governo Fernando Henrique possam ter cometido irregularidades. Parlamentares do DEM, inclusive, criticam a participação do senador Álvaro Dias (PSDB-PR) no episódio do vazamento do dossiê com gastos sigilosos do casal FH.

Os tucanos também demonstram insatisfação com seus parceiros de oposição na CPI. Acreditam que há uma cede para constranger o governo que acaba levando a sérias derrapagens no enfrentamento que acabam favorecendo os governistas.

¿ Acredito que há sim um desencanto das duas partes, mas o importante é buscarmos afinar os discursos e as ações porque um racha não vai favorecer nenhuma parte ¿ diz o líder da minoria de oposição no Senado, Mário Couto (PSDB-PA).

Para o líder do DEM na Câmara, Antonio Carlos Magalhães Neto (BA), há divergências, mas também existe a preocupação, da parte dos dois partidos, para buscar uma oposição responsável contra a cúpula do governo.

¿ Não acredito em diferenças ideológicas, nós temos um programa político parecido ¿ argumenta ACM Neto.

Quando a aliança entre os dois partidos se transporta para o campo eleitoral, o cenário que está sendo costurado para a corrida municipal também representa o descompasso. Das 14 capitais em que o DEM pretende lançar candidatos, até este primeiro momento, o PSDB não demonstra pretensão de apoiar nenhum nome.

A principal separação ocorre em São Paulo. De um lado o DEM carimbou a reeleição do prefeito Gilberto Kassab. Os tucanos, mesmo sob a pressão do grupo do governador José Serra pró-Kassab, deram aval para Geraldo Alckmin disputar a cadeira. A idéia da cúpula do DEM era que Alckmin disputasse a sucessão de Serra no governo, enquanto o governador buscaria a Presidência. Alckmin ponderou o esquecimento do eleitorado.

¿ Não há nenhum problema, não houve nenhuma rebeldia contra o DEM, mas também temos que optar por nosso espaço ¿ justifica o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE).