Título: Lula dispensa novo núcleo duro
Autor: Correia, Karla
Fonte: Jornal do Brasil, 18/05/2008, País, p. A9

Com popularidade em alta e sem preocupações eleitorais, presidente seleciona conselheiros.

Brasília

Mais discreto, sem muita preocupação, pelo menos por enquanto, com a sucessão presidencial ¿ já que, até o momento, conta com apenas uma candidata em potencial com vistas a 2010 ¿ e bem mais descolado do PT. Este é o novo grupo mais próximo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que substituiu ¿ e rejeita essa definição ¿ o antigo núcleo duro do Palácio do Planalto, que caiu em desgraça em situação pouco republicana.

Tais assessores têm, nas eleições municipais deste ano, a chance de estender seu círculo de influência e firmar posição na guerra surda travada com a ala petista que perdeu espaço no governo com a queda dos antigos homens fortes.

Era o grupo que, no primeiro mandato, tinha nos ministros da Casa Civil, José Dirceu, da Fazenda, Antonio Palocci, e de Comunicação Social, Luiz Gushiken, seus principais expoentes. Terá, contudo, de enfrentar antes sua própria versão da "maldição" que assombra a coordenação política. E que, em sucessivas ondas, decepou Dirceu, Palocci, Gushiken e, posteriormente, o mineiro Walfrido Mares Guia da órbita mais próxima ao gabinete presidencial.

Apenas dois personagens da configuração original desse círculo sobreviveram aos cataclismas. O secretário-geral da Presidência, ministro Luiz Dulci, e o chefe-de-gabinete de Lula, Gilberto Carvalho mantêm-se intactos nas proximidades de Lula. O único do grupo a sair do governo sem arranhões foi o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Cansado de apagar sucessivos incêndios, onde às vezes era obrigado a por em prática o que aprendeu como renomado advogado criminalista, pediu as contas, impôs-se uma longa e desnecessária quarentena está de volta à banca.

Ponto em comum

As ambições em torno da sucessão do presidente são o ponto em comum entre o atual núcleo ¿ formado pelos ministros da Casa Civil, Dilma Rousseff, da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins, das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro e da Justiça, Tarso Genro ¿ e seu primo distante do primeiro mandato, essencialmente petista, cujas decisões encontravam consonância com o pensamento da cúpula do partido. São também o principal motor da tal maldição que tem vitimado nome por nome dos círculos mais internos da Presidência

No primeiro mandato, as brigas eram internas. Envolvia, principalmente, Dirceu e Palocci, que disputavam a primazia no processo sucessório de 2010. Dirceu também se altercava com Gushiken, só que pela influência sobre Lula. A tensão interna colaborou para aprofundar as rachaduras e, posteriormente, para a desagregação do grupo, abatido pelos escândalos do mensalão, que vitimou Gushiken e Dirceu, e do episódio da quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa, que derrubou Palocci.

Estrelas demais

¿ O grupo anterior tinha como ponto fraco o excesso de estrelas em busca de um caminho para o Planalto mas era próximo ao PT, o que lhe dava um certo apoio ¿ lembra um petista de alto calibre, com trânsito pelo Planalto.

O grande problema é que parte destes personagens deixou o poder mas continua com muita proximidade da administração federal. Setores do próprio governo identificaram o ex-ministro José Dirceu como responsável pelo vazamento do dossiê com as contas pessoais do presidente Fernando Henrique Cardoso e sua mulher, Ruth. Dirceu, hoje um próspero consultor, com negócios dentro e fora do país que envolvem, inclusive, interesses de multinacionais, negou qualquer participação no episódio e saiu de cena, pelo menos por enquanto.

Os sucessores do núcleo duro não escapam das disputas interiores e deixam escapar, por vezes, a alta octanagem do ambiente que cerca Lula. O comentário de um atrito ministerial vazado para a imprensa já foi suficiente para Dilma se indispor com José Múcio, conhecido por sua diplomacia no ambiente político. Mas é o distanciamento com o partido do presidente que tem apresentado o maior complicador na posição do grupo.

Além do mais, o Lula de hoje não é o mesmo do início do primeiro mandato. Naquela época ele acabou enredado pelo estrelismos de seus principais assessores. Por ser ainda inexperiente nas funções que recebeu, acabou transformando-se, em muitas ocasiões, em presa fácil daqueles que, supostamente, queriam ajudá-lo.

Atualmente, o presidente não tem preocupações em reeleger-se, está com a popularidade em alta e vive recebendo boas notícias quase que diárias, principalmente na área econômica, passando pelo investiment grade que o país perseguia há tempos até as novas reservas da Petrobras. Mais maduro, Lula está selecionando mais os conselhos ¿ bons ou maus.