Título: Ineficiências por todos os lados
Autor: Totinick, Ludmilla
Fonte: Jornal do Brasil, 18/05/2008, Economia, p. E7

Cético quanto à nova política industrial, presidente da Abigraf ataca desperdícios.

Crítico ferrenho da ineficiência governamental, o presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica e vice-presidente da Associação Brasileira da Companhias Abertas, Alfried Karl Plöger, ataca o desperdício de dinheiro pelos governos, e alerta que há muita gordura para cortar. Também defende a redução da carga tributária no país e alerta para a insuficiência de investimentos em infra-estrutura, uma "desgraça" segundo ele.

O senhor considera o custo Brasil alto?

¿ O Custo Brasil é muito alto, extremamente exacerbado em todos os campos. A começar pela própria burocracia, a ineficiência que você verifica em todos os setores, e o custo do governo.

Se o senhor pudesse fazer uma recomendação ao ministro da Fazenda, qual seria?

¿ Recomendaria duas coisas. Pediria para baixar fortemente a tributação, os impostos e as contribuições e, concomitantemente, pediria para diminuir os custos do próprio governo. Joga-se muito dinheiro fora, além da alocação de verbas inúteis. Não há dia, não falo de escândalos, em que o jornal não traga notícias de dispêndios absolutamente discutíveis, desnecessários e inúteis.

Por exemplo?

¿ Basta dizer que temos mais de 30 ministérios. O que faz o Ministério da Pesca? Também só fiquei sabendo de outro ministério devido ao cartão corporativo, na única vez que esteve em evidência. No campo da agricultura, há cinco ministérios concorrendo entre si. Um organismo é seara do outro, aí vai. Tem o Incra, os sem-terra, o planejamento disso ou daquilo, e isso requer um staff enorme de pessoas, infra-estrutura, com computadores, carros, viagens, alimentação e assim vai. Se o empresariado se comportasse como o governo estaria falido, absolutamente falido. O duro é ter de cortar despesa quando não se tem mais o que cortar. Mas no governo tem gorduras e ineficiências brutais em todos lados.

Qual a sua opinião sobre a política do Banco Central?

¿ Considero a política equivocada. Temos os maiores juros do mundo. Sempre competimos com a Turquia, mas agora ultrapassamos outra vez a Turquia. O nosso país não merece isso. Com os nossos índices de inflação, dentro daquilo que foi preconizado pelo BC, não vejo nenhum risco de sair desse planejamento. Ao contrário, acredito que temos todas as condições de ficar dentro dessa previsão. O empresariado, por exemplo, está investindo maciçamente, principalmente em equipamentos com o cenário positivo da importações. E do outro lado, obviamente, cabe ao governo fazer a sua parte, ou seja, investir em logística, na parte de infra-estrutura, que está uma desgraça. Não tem porto que preste. Em São Paulo, uma vez por semana, acontece um pequeno apagão, por má conservação de linhas. O mês de junho se aproxima e ficaremos à mercê do nível dos reservatórios de água para não ter falta de luz. Os portos não dão conta do escoamento dos cereais, que apodrecem dentro das próprias caçambas dos caminhões. O país está mal. Nas estradas, você mais pula do que anda. O governo não fez nada até agora. Dentro desse projeto inicial, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) tem alguma coisa, mas não sinto muita vontade de investir nesse tipo de coisa. É aquela velha história: aquilo que fica embaixo da terra não dá voto.

O senhor está feliz com a Política de Desenvolvimento Produtiva (PDP) lançada na segunda-feira?

¿ Sou um crítico muito forte do PAC, como já fui dos diversos planos econômicos que vieram por aí, pois são normalmente mirabolantes, não têm foco e o pior, envolvem uns 10, 12 ou 15 ministérios. Mas quem cuida desses programas são o segundo, o terceiro e quarto escalões, ou seja, são dezenas e dezenas de pessoas por ministérios que têm de interagir com seus colegas. Seguramente, a Fazenda terá má vontade, pois vai querer segurar os recursos. Por outro lado, não vejo foco, não vejo as coisas claras. Quem é o responsável por esse plano, quem são os operadores. A gente vê isso no PAC, o programa não tem operador, tanto que colocaram a ministra Dilma, mas está do mesmo jeito. De certa maneira há muita pirotecnia, há coisas que não são exeqüíveis; você exigir de uma empresa que agregue internamente todos os custos diretamente vinculados à exportação é impossível. Não dá para exigir uma fiscalização rígida do governo. Só quero ver como será a operacionalização para as médias e pequenas empresas. Que exigências vão fazer para daqui a 10 anos?

A PDP vai beneficiar todos os setores?

¿ Não. Inicialmente, a área de softwares, depois a indústria automobilística, mas isso para mim, no momento, não é importante porque acho que o plano em si já começou a fazer água antes de ser implantado, não tem operador. Me diga com quem eu falo? Quem tem o comando para falar com o ministro A, B ou C? Ninguém.

Como o senhor analisa a relação PIB/dívida pública no Brasil e nos EUA?

¿ Há uma palavra muito forte chamada credibilidade. Ela movimenta a economia, crédito e a área financeira. Não há dúvida alguma que a economia dos EUA mesmo com o subprime, com as guerras, não a perdeu e isso precisa ser conquistado no Brasil. Recentemente, conquistamos o grau de investimento e isso já está sendo muito bom. Já temos um, ainda falta outro, pois, na verdade, só se considera mundialmente como grau de investimento o país que o tenha recebido de duas agências de classificação de risco diferentes. Provavelmente agora ficará mais fácil receber o outro.

Como o senhor vê o mercado de ações no Brasil?

¿ O brasileiro ainda não tem cultura desenvolvida, pois gostaria de ter um mercado de ações com garantias de renda fixa, que não houvesse grandes oscilações nas cotações das ações. No mercado americano, por exemplo, é permitida a especulação. Não falo de manipulação, faz parte do mercado de capitais. Aqui o mais comum é a empresa A comprar a empresa B, o investidor receber o percentual da operação e acabou. Isso acontece em boa parte em conseqüência do engessamento dos atos normativos. Temos um monte de regras, instruções que cerceiam a agilidade de investir e, por isso, nossa cultura é completamente diferente da dos Estados Unidos. O subprime aconteceu, por exemplo, porque houve uma liberdade muito grande. Mas aqui ainda vai demandar um bom tempo. É um mercado para ganhar e perder.

O governo pode adotar alguma medida para facilitar esse mercado?

¿ Várias. Dar mais liberdade de ação e punir aquele que manipula, que vaza informação. A questão ética deveria ser levada em consideração por ser inerente à boa governança corporativa, mas, por outro lado, deveria soltar as amarras éticas e legais que prendem o mercado. Hoje, funciona 24 horas; posso comprar ações americanas às 4h da manhã na Austrália, pela internet. Essas coisas têm de ser rápidas e não podem ter muitas travas. Outro ponto importante está nos impostos e taxas que incidem no mercado de ações.

O setor gráfico brasileiro compete com o resto do mundo?

¿ Sim. Ganhamos vários prêmios internacionais. Importamos, só no ano passado, mais de US$ 1 bilhão em equipamentos gráficos. Daqui a alguns dias, acontecerá a maior exposição de máquinas gráficas do mundo, na Alemanha, onde são fechados muitos negócios e muitas novidades serão trazidas para o Brasil, principalmente devido ao câmbio.

A tecnologia prejudicou o setor?

¿ Ela o aqueceu. Nossa capacidade, mesmo com o aquecimento da economia, não está tomada. São 15% de ociosidade, alguns ramos com mais e outros com menos. O crescimento em média segue o aumento do PIB. Tivemos um desempenho muito bom no ano passado, US$ 9,6 bilhões. Para este ano, a previsão é boa devido às eleições municipais, quando são impressos materiais de campanha que seguramente aumentam de 1% a 2% o faturamento do nosso setor.