O Estado de S. Paulo, n. 47971, 18/02/2025. Economia & Negócios, p. B2

Haddad vê inflação relativamente normal
Fernanda Trisotto

 

 

Para o ministro da Fazenda, índice em torno de 4% a 5% está “relativamente” dentro da normalidade, apesar de a meta de inflação do Banco Central ser de 3%.

Em meio aos receios com a alta de preços, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse ontem que o Brasil tem uma inflação em torno de 4% a 5% e que isso está “relativamente” dentro da normalidade para o Plano Real, reforçando que o País deixou para trás o período em que os indicadores de preços superavam o patamar dos dois dígitos.

“O Brasil tem feito um trabalho, tentando encontrar um caminho de equilíbrio e sustentabilidade, mesmo em fase de um ajuste importante”, disse Haddad, ao participar de conferência do Fundo Monetário Internacional (FMI) na Arábia Saudita. “O Brasil deixou uma inflação de dois dígitos há três anos. Hoje, temos uma inflação em torno de 4% a 5%, que é uma inflação relativamente normal para o Brasil desde o Plano Real.”

O ministro disse ainda que a valorização do dólar no mundo pressionou a inflação. Isso exigiu a ação do Banco Central, que adotou uma política monetária contracionista para controlar a inflação. Com a valorização do real ante o dólar nas últimas semanas, Haddad espera uma estabilização de preços.

“Com a valorização do dólar pelo mundo, isso acabou nos fazendo ter problemas com inflação no segundo semestre do ano passado. Por isso, o Banco Central teve de intervir para garantir que a inflação fosse controlada”, disse.

LONGE DA META. Em 2024, a inflação oficial do País, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), fechou em 4,83%, acima do teto da meta (de 4,5%), pu

Segundo boletim Focus, nova estimativa para fechamento do IPCA no ano é de 5,6%

xada pelo impacto do câmbio e pela alta de preços dos alimentos. Economistas afirmam que a preocupação com o IPCA segue agora em 2025, apesar da menor pressão do câmbio até agora. Para Heron do Carmo, da FEA/USP, o governo deveria focar no controle dos gastos públicos, em vez de depender exclusivamente da política monetária. “Inflação é sempre preocupante, especialmente no Brasil”, diz ele ( mais informações na pág. B3).

A trajetória dos preços também é monitorada de perto pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, que já indicou mais uma alta de um ponto porcentual para a Selic na sua reunião de março – o que levaria a taxa básica de juros para 14,25% ao ano.

Pelo relatório Focus (uma compilação feita pelo BC) divulgado ontem, o mercado voltou a aumentar a previsão para o IPCA no ano: a mediana foi de 5,58% para 5,6%, 1,10 ponto porcentual acima do teto da meta. Foi a 18.ª semana consecutiva de aumento das estimativas. Um mês antes, o índice esperado era de 5,08%.

Também ficou mais alta a previsão do mercado para os preços no próximo ano, com a mediana saindo de 4,30% para 4,35%.

A partir deste ano, a meta começa a ser apurada de forma contínua, com base na inflação acumulada em 12 meses. O centro continua em 3%, com tolerância de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos. Se o IPCA ficar fora desse intervalo por seis meses consecutivos, considera-se que o Banco Central perdeu o alvo. •