O GLOBO, n 32.311, 22/01/2022. Saúde, p. 22
Diretores da Anvisa recebem ameaças
> Minutos após a aprovação do uso da vacina Corona Vac em crianças, na tarde de quinta-feira, diretores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) começaram a receber ameaças e ofensas em seus e-mails institucionais.
> Em um deles, encaminhado à quinta diretoria, uma pessoa que se identifica apenas como Nilza acusa os funcionários da agência de colocarem “vida inocentes numa grande roleta russa”. E acrescenta que servidores da agência serão vítimas de uma “maldição”: “(...) o preço a ser pago será terrível não quero estar na sua pele e oro a Deus em desfavor de todos que tem causado dor e sofrimentos ao seu próximo, lembre se o próximo pode ser dentro de sua família (sic.)”
> Em outro e-mail em tom ameaçador, enviado às 14h de quinta-feira, o remetente acusa os servidores da agência de falta de “amor à pátria” e também diz que "o preço que o servidor vai pagar será altíssimo". “Com certeza não usará esse experimento nós filhos e netos de vcs" (sic.)”. > Em sua live semanal, no dia 16 de dezembro, o presidente Jair Bolsonaro ameaçou divulgar os nomes dos técnicos que aprovaram a vacina contra Covid da Pfizer para crianças de 5 a 11 anos.
— Não sei se são os diretores e o presidente que chegaram a essa conclusão ou é o tal do corpo técnico, mas, seja qual for, você tem o direito de saber o nome das pessoas que aprovaram aqui a vacina a partir dos cinco anos para o seu filho — disse o presidente Bolsonaro.
> Desde então, técnicos e diretores da Anvisa têm sofrido ameaças e perseguições, por e-mails e nas redes sociais, por causa da atuação da agência na vacinação infantil. Ao todo, os funcionários da agência já receberam mais de 300 e-mails ameaçadores. No último dia 20 de dezembro, três dias após a fala do presidente da República, a Polícia Federal abriu um inquérito para investigar o caso.
> As últimas ameaças, na tarde de quinta-feira, foram encaminhadas minutos após a Anvisa aprovar, por unanimidade, a autorização emergencial da vacina CoronaVac para crianças e adolescentes de 6 a 17 anos.
> Na sexta-feira, o Ministério da Saúde anunciou que vai utilizar as doses da CoronaVac na imunização de crianças e adolescentes. A decisão vem um dia após o governo de São Paulo iniciar a vacinação de crianças com imunizante, o que mobilizou governadores de outros estados a pressionarem o Ministério da Saúde pela liberação imediata da vacina. (Patrick Camporez, Brasília)