O GLOBO, n 32.312, 24/01/2022. Economia, p. 12

Cenário internacional e eleição no Brasil são riscos no radar

Naiara Bertão


Avanço da Omicron e os movimentos do Fed, nos EUA, geram temores

Ainda que as perspectivas para a Bolsa em 2022 sejam positivas, a recuperação das cotações pode ser adiada devido a riscos internos e externos.

Do ponto de vista internacional, André Carvalho, chefe de pesquisas econômicas do Bradesco BBI, lista três fatores que vão ditar o tom dos investimentos em 2022: crescimento, volatilidade e liquidez.

Com relação ao crescimento, sua expectativa é que a economia global avance cerca de 4%, patamar pré-pandêmico. Mas não estão descartadas reviravoltas, uma vez que o avanço da Ômicron tem afetado a produção em alguns países.

A China segue um importante agente de crescimento mundial, especialmente para as empresas da Bolsa brasileira. Se a Covid avançar por lá, pode haver novos lockdowns, interferindo na recuperação da economia chinesa e sua demanda por commodities.

Carvalho acredita que a volatilidade do mercado deve aumentar em 2022, dadas as incertezas sobre a pandemia e os movimentos do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) para elevar juros e retirar estímulos mais rapidamente do que se imaginava. Por fim, ele avalia a liquidez, que é a disponibilidade de dinheiro nos mercados:

— A liquidez dita o apetite ao risco do investidor internacional. Farta liquidez leva a maior apetite para investir em países emergentes, como o Brasil. Se a liquidez diminui muito com o aperto monetário (do Fed), o quadro pode se tornar perigoso.

SEGURANÇA DOS EUA ATRAI

Jennie Li, da XP, acrescenta que o aumento dos juros nos EUA é, por si só, um atrativo para investidores internacionais irem para lá. Além de significar rendimentos maiores que os de hoje, é uma economia considerada mais segura:

— Juros mais altos devem levar os investidores globais a irem aos EUA em busca de maior rendimento, tirando fluxo de mercados emergentes. Isso tende a fortalecer o dólar frente ao real e a outras moedas.

Já o câmbio pode ser afetado por fatores internos, como a percepção de risco fiscal e o desfecho das eleições.

— Em 2021, o principal motivo para ver o dólar se valorizando frente ao real foi o crescimento da incerteza e a deterioração do cenário doméstico. O fiscal se deteriorou no segundo semestre, e a articulação política do governo foi ruim diante de medidas tomadas e reformas pautadas para manter austeridade fiscal. Continuaremos num cenário assim em 2022, com as eleições — diz Rafael Panonko, da Toro.