O GLOBO, n 32.313, 25/01/2022. Brasil, p. 9
Amazônia Legal tem menor investimento por aluno
Fernanda Trisotto
FGV -RJ constata que percentual do PIB dos municípios supera o de outras regiões, mas pobreza e demografia atrapalham
Três a cada quatro crianças que vivem em estados da Amazônia Legal moram em cidades onde o investimento médio em educação é inferior à média nacional. Apesar de essas localidades investirem valores consideráveis em relação ao PIB municipal, o montante é insuficiente para as necessidades dos alunos, segundo a equipe do economista Carlos Eugênio da Costa, professor da FGV-RJ e pesquisador do projeto Amazônia 2030.
O grupo analisou os dados de investimentos em educação e o desempenho em avaliações nacionais como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica e o Indicador de Nível Socioeconômico referentes a 2019 para comparar o desempenho dos nove estados da Amazônia Legal em relação ao restante do país.
O período foi escolhido para avaliar qual a situação anterior à pandemia da Covid-19, já que os problemas surgidos posteriormente afetarão todos os alunos, com mais peso para aqueles que vivem em regiões mais carentes. Para Costa, o principal ponto é analisar como uma política pública promove a qualidade de vida das pessoas ponderando as diferenças regionais:
— Há uma dedicação de porcentagem grande do PIB municipal, mas quando se faz a conta do quanto isso se transforma em gasto por estudante, dois fatores fazem com que seja menor que a média nacional: a pobreza da região e sua demografia. A despesa ainda é menor por haver uma população relativamente mais jovem.
Nenhuma região investe mais em educação proporcionalmente em relação ao PIB, no agregado de estados e municípios, do que os estados que compõem a Amazônia Legal, que somam 7,14% ante 4,03% das demais regiões. Mas o investimento per capita, de R$ 4.491,73, está abaixo da média das demais regiões e é o segundo pior resultado do país, de R$ 5.050,90.
Apenas o Nordeste tem um desempenho inferior, de acordo com a pesquisa. A região também reserva um percentual alto do PIB para educação ( 6,57%), mas na divisão dos recursos por aluno, o resultado é de R$ 3.977,66 por estudante. O Sudeste, com maior investimento por estudante, com R$ 5.577,63, tem o menor porcentual em relação ao PIB (3,49%).
MATO GROSSO É EXCEÇÃO
O Mato Grosso é uma exceção na Amazônia Legal e investe mais do que a média nacional, tanto em percentual do PIB quanto por aluno. A região engloba também o Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins e parte do Maranhão e tem resultados heterogêneos, diz Costa:
— O Mato Grosso é um mundo à parte, um estado rico, ao contrário do restante da região. Tem especificidades para os estados que são ex-territórios, como o Acre. E Pará e Maranhão estão em desvantagem em quase tudo.