O Estado de S. Paulo, n. 47943, 21/01/2025. Política, p. A8
Ministra das Mulheres é alvo de denúncias de ex-servidores
Felipe Frazão
A Comissão de Ética da Presidência da República está investigando denúncias de ex-servidoras contra a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves. Em meio a problemas de relacionamento com servidores, ela é acusada de suposta prática de assédio moral e xenofobia no ministério. Os relatos foram enviados para apuração de dois órgãos federais: a Controladoria-Geral da União (CGU) e a Comissão de Ética.
O Estadão teve acesso ao conteúdo de cinco denúncias formais e três gravações de reuniões internas feitas pelas denunciantes e entregues à CGU e à Comissão de Ética. Além da ministra, foram apresentadas acusações contra a secretária executiva do ministério, Maria Helena Guarezi, a corregedora interna, Dyleny Teixeira Alves da Silva, e a exdiretora de Articulação Institucional Carla Ramos.
Os relatos envolvem ameaças de demissão a servidoras, cobrança de trabalho em prazo exíguo, tratamento hostil, manifestações de preconceito e gritos. As condutas podem configurar assédio moral.
DISCRIÇÃO. Cida e Maria Helena são próximas e têm apoio político da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja. O assunto vem sendo tratado com discrição no governo Lula. A ministra segue no cargo e não fez mudanças na sua equipe. De acordo com relato das ex-servidoras, Maria Helena Guarezi, segunda na hierarquia do ministério, teria manifestado racismo em uma reunião. Já Carla Ramos é acusada de gritar com subordinadas. A corregedora Dyleny da Silva, segundo as denunciantes, teria se omitido na apuração das acusações de assédio.
Procurada, a CGU disse que a acusação à ministra, que veio acompanhada de gravações, foi remetida à Comissão de Ética e que arquivou denúncias contra as demais servidoras por falta de “elementos que indicassem possíveis infrações disciplinares”. O Ministério das Mulheres afirmou que as queixas não possuem “elementos concretos” (mais informações nesta página).
O caso de Cida Gonçalves é o segundo de um ministro denunciado por assédio no governo Lula nos últimos meses. O primeiro foi o então ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, acusado de assédio moral e sexual. Ele foi demitido do cargo depois de vir a público a informação de que ele teria abusado de uma colega de Esplanada, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. Ela confirmou, embora ele negue.
As denunciantes dizem que as hostilidades começaram a partir de um desentendimento entre a ministra e a então secretária nacional de Articulação Institucional, Ações Temáticas e Participação Política, Carmen Foro.
Sindicalista do Pará e petista, Carmen não foi uma escolha da cota pessoal da ministra. Indicação partidária do PT, chegou ao posto com suporte político da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag).
EXONERADA. Carmen foi exonerada no dia 9 de agosto do ano passado. Três dias depois, a ministra convocou uma reunião com os cerca de 30 servidores da área. As denunciantes, que estavam nesse encontro, relatam que ouviram frases da ministra que foram entendidas como ameaça. Logo no início, Cida Gonçalves justificou que Carmen, embora reconhecida líder social, não era “boa gestora” e atuava mais como “candidata” no Pará, com viés local, do que como “secretária nacional”. E afirmou que no seu ministério a hierarquia tinha de ser respeitada. •