O GLOBO, n 32.313, 25/01/2025. Brasil, p. 8

Garimpo mudou cor da água em Alter do Chão, diz MapBiomas



Imagens de satélite rastrearam caminho de sedimentos no Rio Tapajós

A lama que deixou turvas as águas do Rio Tapajós na região de Alter do Chão, no Pará, é originária sobretudo de garimpos, segundo um comunicado do projeto MapBiomas, que rastreou o caminho dos sedimentos usando imagens de satélite. A conclusão coincide com um dos fatores mais importantes apontados para a mudança da coloração do rio, conhecido pelas águas cristalinas, por pesquisadores e ativistas ambientais que estudam e realizam trabalhos de preservação no Tapajós.

Em uma nota técnica divulgada ontem, o MapBiomas aponta que o barro esbranquiçado visível em fotografias feitas por turistas desde o início do mês tem origem sobretudo em operações de mineração ilegal em afluentes do Tapajós, como os rios Jamanxim, o Crepori e o Cabitutu.

Parte dos sedimentos é natural e se deve à cheia do Rio Amazonas, onde o Tapajós deságua. O barro natural do Amazonas, no entanto, precisaria ser mais forte do que a correnteza do afluente para mudar a cor da água. Assim, a única explicação para o grau de turbidez em Alter do Chão é o aumento das atividades de garimpo, concluiu o MapBiomas.

“O garimpo ilegal na Amazônia tem crescido nos últimos anos, e uma das regiões onde isso foi mais expressivo é na área do Tapajós, onde triplicou nos últimos 10 anos, chegando a uma área do tamanho de Porto Alegre”, lembra a nota do projeto, a partir do trabalho comandado por César Diniz, coordenador técnico do mapeamento da mineração e da zona costeira do MapBiomas.

“A atividade garimpeira desmata e escava o solo amazônico ou draga o fundo dos rios. Os sedimentos são descartados diretamente das plantas de extração (ou lixiviados pelas chuvas, já que perderam a proteção florestal) para dentro dos rios”, explicam os pesquisadores. “O aporte extra de sedimentos altera as características físico-químicas da água e, por consequência, a cor de rios e lagos”.

PREJUÍZO AO TURISMO

Os rios onde o garimpo parece estar despejando mais sedimento ficam a até 300 km da foz do Tapajós, onde fica Alter, dizem os cientistas. Além do risco de contaminação por mercúrio e por outros insumos usados no processo, o garimpo prejudica o turismo.