Título: Ricos e traficantes param na cadeia
Autor: Leandro Bisa
Fonte: Jornal do Brasil, 18/02/2005, Brasília, p. D1

Polícia desbarata quadrilha internacional que tinha base em Brasília. O líder, filho de ex-diplomata, ainda está foragido

Bonitos, jovens ricos. Esse é o perfil dos integrantes de uma quadrilha internacional de narcotraficantes que, desde 2001, levava cocaína para Amsterdã (Holanda) e trazia haxixe, ecstasy e skank para Brasília. O negócio chegou ao fim, ontem, com a prisão de seis pessoas do grupo. Dois ainda estão foragidos, entre eles, o líder da quadrilha: Michelli Tocci, 31 anos, filho do ex-adido cultural da Embaixada da Itália, e conhecido no Lago Sul, onde mora, como Barão do Ecstasy. A quadrilha começou a ser desarticulada, pela Polícia Civil do DF, na quinta-feira à noite. Eram 10h quando a servidora do Ministério Público da União (MPU), Sandra Gorayeb, 36 anos, desembarcou e foi presa no Aeroporto Internacional de Brasília, carregando 2,5 kg de skank, 800 gramas de haxixe, 46 gramas de MDMA (substância que serve de matéria prima para o ecstasy) e cerca de US$ 40 mil, segundo a polícia. Esse foi o primeiro ato da operação batizada de Conexão Holanda.

A operação durou até às 6h de ontem e os acusados, moradores de áreas nobres e filhos de pessoas influentes da sociedade brasiliense, foram sendo presos um a um. O estudante de direito Ricardo de Paranaguá Piquet Carneiro, 33 anos, foi preso em sua casa, no Lago Sul. O professor de inglês Wladimir Bilotta Duarte, também foi preso em sua residência, na Asa Norte.

Outros integrantes do grupo foram capturados em Santa Catarina e São Paulo. Augusto Cesar de Almeida Lawall, 32 anos, estava passando férias em Florianópolis (SC). A polícia o encontrou numa mansão num dos bairros mais nobres da ilha catarinense. Outro preso é Marcello Maghenzani, 29 anos. Ele morou em Brasília por dez anos. Atualmente, estava em São Paulo, onde é dono de um bar.

Por pouco a polícia não pegou o homem acusado de ser o Barão do Ecstasy no DF. Tocci e Leandro Caetano Pompeo estavam hospedado num hotel no Setor Hoteleiro Sul. Segundo o delegado Miguel Lucena, diretor de comunicação da Polícia Civil, os agentes chegaram ao hotel dez minutos depois de os dois saírem. Descobriram que a dupla usava uma Pajero e iniciaram perseguição. O veículo foi encontrado, mas Tocci já havia escapado. Apenas Leandro foi preso.

Além do filho do ex-adido cultural da Embaixada da Itália, Marco Antônio Gorayeb, 42 anos - irmão de Sandra - também está sendo procurado. Gorayeb está fora do DF, mas a polícia afirma ter conhecimento do seu paradeiro. A expectativa é que sua prisão ocorra a qualquer momento. Além da droga levada por Sandra, 88 gramas de maconha e 160 gramas de skank foram apreendidos.

Apesar de agirem desde 2001, os traficantes de classe média alta só começaram a ser investigados em julho de 2003. O diretor da Divisão Especial de Repressão ao Crime Organizado (Deco), delegado Cícero Jairo de Vasconcelos, disse que o esquema gerava muito dinheiro para a quadrilha. Em média, o quilo de skank - maconha geneticamente modificada - era comprado na Europa por US$ 5 mil e vendido em Brasília por US$ 15 mil.

De acordo com Vasconcelos, os traficantes se revezavam nas viagens ao Exterior. A droga era distribuída em festas de jovens ricos brasilienses, principalmente, segundo o diretor da Deco, em raves.